Correio Braziliense, n. 21705, 20/08/2022. Política, p. 4

Velloso: “A urna é auditável”

Aline Brito


Lançado esta semana, o quinto episódio do Podcast do Correio recebeu o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Mário Velloso. Em conversa com as jornalistas Ana Maria Campos e Denise Rothenburg, ele garantiu que as urnas eletrônicas são auditáveis. Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Velloso idealizou e implementou o sistema que substituiu o voto impresso, em 1996.

“A urna é auditável. Ela pode ser auditada antes, durante e depois (das votações). É possível fazer, inclusive, uma apuração paralela”, garantiu Velloso.

O ministro aposentado explicou como é feita a auditoria. Segundo ele, o processo é trabalhoso, pois as urnas eletrônicas não estão conectadas a uma rede de internet, mas que é absolutamente possível. “Até com um celular é possível fazer a auditoria”, afirmou.

“Tudo depende do software do código fonte. Ele é elaborado um ano antes e fica à disposição do Ministério Público, da OAB, dos partidos políticos, dos pretensos candidatos e dos cidadãos. Pode ir lá, o código vai estar à disposição para conferência”, detalhou. “Cerca de um mês antes das eleições, é feita uma cerimônia, e ele (código fonte) é assinado pelos representantes dessas entidades digitalmente. No dia das eleições, antes de começar a votação, o presidente da mesa imprime a zerésima, um boletim que demonstra que a urna tem zero votos”, continuou.

Encerrada a votação, descreveu Velloso, é impresso o boletim de urna, com o registro dos votos. Esse documento  é impresso em cinco vias, que são entregues aos partidos. Uma outra via é fixada na porta dos locais onde ocorreu a votação. Além disso, Velloso garantiu que qualquer cidadão interessado ter acesso a outra via, “pode obter o pendrive”.

 

“Hacker não entra”

Velloso assegurou a inviolabilidade da urna. “Hacker não entra. Olha, só entra na urna com martelo, com ela quebrada, porque ela não está na rede”, disse.

Velloso ainda contou que a ideia de emitir um comprovante impresso do voto, assim como defende Bolsonaro, já foi implementada, mas não teve condições de permanecer. “As primeiras urnas tinham a ‘urninha’ para o voto impresso, mas não deu certo. Essas impressoras não têm a mesma técnica que os computadores, elas estão sujeitas a problemas com umidade, calor, frio”, ponderou. “Então imagine, essas impressoras seriam acopladas à urna, em lugares como Amazônia ou no Nordeste. Então a partir de 1998 já não existiu mais, porque não deu certo”, esclareceu.

O comprovante impresso do voto também esbarra no Código Eleitoral, que estabelece que o voto é “obrigatório e secreto”. “Você não pode quebrar o sigilo do voto, que é constitucional, é garantia de independência do eleitor”, reforçou Velloso.

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