Correio Braziliense, n. 21706, 21/08/2022. Economia, p. 9
Planos incompletos
Rosana Hessel
As propostas econômicas dos candidatos à Presidência ainda são muito superficiais, de acordo com analistas que reconhecem a necessidade do combate à pobreza, mas com responsabilidade fiscal. Eles alertam para a falta de fontes de recursos para os gastos que são previstos nos planos.
Nesse sentido, o programa do presidente Jair Bolsonaro (PL) preocupa bastante, porque, segundo eles, o ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu a credibilidade de ser um freio aos anseios populistas do chefe do Executivo. Bolsonaro já prometeu até manter os tributos federais sobre combustíveis zerados em 2023, outra medida que deve piorar ainda mais o quadro fiscal. “A proposta de Bolsonaro continua irrealista e foge das questões básicas do que fazer com o fiscal”, avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Para ele, o programa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também vai no caminho, não deixa claro as fontes de recursos do novo Bolsa Família.
“O programa do presidente Bolsonaro tem incoerências e a conta não fecha. Por um lado, sugere mais gastos que podem se tornar permanentes, sem explicar como resolver esse problema. Por outro lado, Guedes tem defendido a taxação de dividendos para cobrir o novo valor do auxílio. Mas isso não deixa de ser contraditório, porque o presidente já está gastando por conta”, pontua André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
O economista Simão Davi Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP), reforçou o alerta para 2023. “Vai ser muito difícil fechar as contas no ano que vem. Tem muita demanda de gastos represada e a economia não vai crescer e isso não vai ajudar a arrecadação”, explica. Segundo ele, quem vencer a eleição terá que contingenciar despesa no início do mandato. Para Benito Salomão, economista-chefe da Gladius Research, a proposta econômica de Bolsonaro não está clara. “Guedes tem muito pouca força para frear o ímpeto populista do presidente”, frisa o analista. Ele defende um arcabouço fiscal reformulando o teto de gastos, com gatilhos para momentos de crise. “O governo acabou com o teto de gastos, da forma como conhecíamos, desde a PEC dos Precatórios.”