Título: Renan nega que seja ''empregado do governo''
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/10/2005, País, p. A4
O presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que não é empregado do governo, numa reação às ressalvas feitas pelo Palácio do Planalto quanto a sua atuação na eleição da presidência da Câmara, na quarta-feira. O senador negou qualquer indisposição com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ressaltou que, no comando do Legislativo, não tem compromisso de dar voto à base aliada, da qual é um dos principais articuladores. Para líderes governistas, a apertada vitória do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), candidato do governo na disputa pela presidência da Câmara, é prova de que Renan não tem a força que afirma ter no PMDB.
Na quinta-feira, Lula vetou a presença do presidente do Senado na audiência em que recebeu Aldo pela primeira vez após a eleição de quarta-feira. Na avaliação do presidente, Renan pretendia aparecer como o pai da vitória governista na disputa, o que seria prejudicial à independência de Aldo no comando da Câmara.
- Acha que o presidente evitou minha presença? O presidente tem me convidado sistematicamente para conversar, inclusive ontem. Temos a exata consciência da separação dos poderes: ajudo na governabilidade, mas eu tenho meus limites - afirmou Renan, após participar de debate com cerca de 250 integrantes do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), em São Paulo.
- Não sou empregado do governo, sou presidente do Congresso Nacional - disse o peemedebista.
Renan defendeu Aldo, dizendo que ele dará uma resposta aos que pensam que sua eleição pode emperrar as apurações sobre os deputados ameaçados de cassação.
O presidente do Senado afirmou que terá reunião na terça-feira com integrantes das três CPIs que investigam denúncias de corrupção no governo a fim de acelerar trabalhos e ''punir exemplarmente'' os eventuais culpados.
Para a agenda do Congresso, Renan defendeu a mudança da Constituição para que os parlamentares ganhem tempo e aprovem a reforma política neste ano - assim, poderá valer na eleição de 2006. Ainda cobrou a aprovação da reforma tributária na Câmara.
- A passividade do governo não permite o andamento da agenda do país - afirmou ele.
A carga tributária apareceu como principal fator de impedimento do crescimento de empresas, segundo pesquisa com os empresários realizada durante o evento. Numa das perguntas, sobre a eficiência da administração, o governo ganhou nota 2,2, numa escala de 0 a 10. Ao responderem se o cenário político contamina negativamente a economia, 92% dos cerca de 250 empresários presentes disseram que sim -para 62% pouco e para 30% muito.
No debate, Renan tentou justificar o fato de não ter apoiado a candidatura de Michel Temer (PMDB-SP), da ala oposicionista do partido, à presidência da Câmara. Disse que Temer tinha um bom perfil, mas não tinha votos. A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) - uma das parlamentares presentes no debate - iniciou bate-boca com o presidente do Senado, dizendo que Aldo era ainda mais fraco e que sua eleição foi um equívoco. Renan respondeu dizendo que a escolha foi democrática. O auditório ensaiou uma vaia.
Renan tentou continuar, repetindo a palavra ''democrática'' cinco vezes. O barulho só parou quando o mediador pediu silêncio.