Título: Devassa nas contas de celebridades
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 01/10/2005, País, p. A7

A Polícia Federal começa a instaurar na segunda-feira 3,5 mil inquéritos para investigar evasão de divisas, crime contra a sistema financeiro e lavagem de dinheiro - a maioria no Rio e em São Paulo. A lista de investigados inclui as empresas Xuxa International Corporation, da apresentadora Xuxa Meneghel, e o Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. Jogadores de futebol, entre eles, o atacante do Vasco Romário, estilistas e donos de casas noturnas também terão de dar explicações à polícia.

Ontem, as superintendências da PF em todos os estados começaram a receber pacotes com documentos sobre as empresas e personalidades que transferiram dinheiro para o exterior por intermédio de doleiros. A documentação - que passou pela análise da PF em Brasília - inclui cadastros e extratos bancários recolhidos em bancos dos Estados Unidos, a grande maioria da conta Beacon Hill Service Corporation, uma ''conta-ônibus'' que hospedou milhares de movimentações ilegais.

O esquema internacional de lavagem de dinheiro teria envolvido movimentações de US$ 88 bilhões (R$ 198 bilhões), entre créditos e débitos. Os inquéritos serão instaurados pela Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefins) da PF no respectivo Estado.

No Rio serão instaurados 721 inquéritos, inclusive o da apresentadora Xuxa. Entre 1998 e 2002, a Xuxa International Corporation movimentou US$ 27 milhões (R$ 60,7 milhões) no exterior, dinheiro que passou pelas contas de doleiros, entre elas Azteca, Atrium, Beacon Hill e Sinkel Financial. Em junho, o diretor da Xuxa International, Luiz Cláudio Moreira, negou que tivesse usado doleiros e que tivesse movimentado tanto dinheiro no exterior.

- Se alguma empresa para a qual fizemos pagamentos usou a Beacon Hill, paciência - disse Luiz Cláudio na ocasião.

O jogador Romário segundo a PF, teria enviado mais de US$ 200 mil.

Para São Paulo, a PF começa a enviar documentação para a criação de 2.152 inquéritos sobre empresários e personalidades que enviaram dinheiro pelo esquema. O banqueiro Daniel Dantas terá de dar explicações sobre 268 operações financeiras, no valor de US$ 18 milhões (R$ 40,5 milhões). O dinheiro do banqueiro passou pelas contas Beacon Hill, Azteca, Conde Investments e Courchevel, esta última do doleiro Sílvio Roberto Anspach.

Um eventual indiciamento por lavagem de dinheiro e evasão de divisas pode complicar a vida do dono do Opportunity. Em abril, Dantas foi indiciado pela PF por formação de quadrilha, corrupção ativa e divulgação de segredo, pela ''posição superior'' que tinha na ''organização criminosa internacional'' da empresa Kroll Associates, que espionou desafetos dele.