Valor Econômico, v. 20, n. 4831 06/09/2019. Brasil, p. A5
 

Guedes nega mudança no teto de gasto
 Marina Falcão


O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Brasil não vai flexibilizar o teto de gastos. "Não vamos furar o teto, vamos abaixar o piso", afirmou ontem, após duas horas de palestra para 600 empresários em Fortaleza.

Segundo Guedes, não houve mudança de opinião do presidente Jair Bolsonaro em relação ao tema. "Perguntaram a ele sobre o teto de gastos e ele deu a explicação que eu dei. Quando você tem as despesas obrigatórias crescendo muito, você vai reduzindo o espaço. Foi isso que ele falou: é uma questão aritmética", disse. "Você tem um teto e as despesas vão subindo, tem uma hora que você vai ter que enfrentar esse problema."

De acordo com o ministro, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, deve ter ouvido de Bolsonaro que "tem um problema aí sério, esse negócio de teto tem um problema", mas que o problema não é o teto, e sim o piso.

Guedes afirmou que vai propor no novo pacto federativo o controle das despesas em vez de furar o teto de gastos. Ele afirmou que os próximos passos do governo serão enviar a proposta de pacto federativo para o Senado e a reforma tributária para a Câmara e o Senado.

Em sua primeira palestra no Nordeste desde que assumiu o cargo, Guedes disse que o governo quer acelerar os processos de privatização e sugeriu a criação de um canal "fast track" para as concessões. "No mercado privado você vende um ativo em 40 dias. Não dá para ficar um ano e meio para vender cada empresa."

Para acelerar as privatizações, sugeriu, o governo quer enviar ao Tribunal de Contas da União (TCU) uma lista com projetos, para que sejam liberados mais rapidamente. O ministro fez ainda uma provocação: "Qual a dúvida em privatizar os Correios? Lá nasceu o mensalão. Ninguém escreve mais cartas", disse.

Guedes tentou minimizar as declarações do presidente Jair Bolsonaro dirigidas à primeira-dama da França, Brigitte Macron, e afirmou que, apesar dos avanços da equipe econômica, a imprensa prefere noticiar atos polêmicos do presidente. "O que vejo nos jornais é que ele xingou a [Michelle] Bachelet, que chamou a mulher do [presidente Emmanuel] Macron de feia. Mas é feia mesmo, não é nenhuma mentira." Sob risos da plateia, emendou: "Não existe mulher feia. O que existe é a mulher vista pelo ângulo ruim".

Em conversa com jornalistas após o evento, Guedes disse que as declarações foram em tom de brincadeira. "Você viu que nós estávamos em tom de brincadeira, nos divertindo, falando que o presidente tem bons princípios e às vezes extrapola no modo de falar?"

Em tom de irritação, Guedes disse que não iria justificar nada. "Você viu o que o presidente da França disse no final: nós devíamos fazer uma intervenção internacional na Amazônia. Vocês deveriam estar criticando isso. O presidente da França está querendo fazer uma intervenção porque chamaram a mulher dele de feia. Olha só que coisa horrível", disse. O ministro afirmou que a média de incêndios na Amazônia é a exatamente a mesma há 15 anos.

Por volta de 20h30, o Ministério da Economia emitiu nota em que Guedes se retrata. O texto, assinado pela Assessoria Especial de Comunicação, afirma que o ministro "pede desculpas pela brincadeira" sobre Brigitte Macron. E justifica que sua intenção teria sido "ilustrar que questões relevantes e urgentes para o país não têm o espaço que deveriam no debate público".

O empresário João Carlos Paes Mendonça, dono do grupo de shopping centers JCPM, disse que estava com expectativa "boa" para a economia. "Claro que há dificuldades de implementar e alguns problemas de relacionamento, mas os projetos são bons", disse. Sobre uma eventual flexibilização do teto de gastos, Paes Mendonça foi enfático: "Tem que haver o controle dos gastos".

O empresário cearense Cândido Pinheiro Junior, dono da seguradora de saúde Hapvida, uma das patrocinadoras da palestra, disse que a economia começa a dar sinais de mudança. Ednilton Soaréz, dono do Beach Park e de uma rede de quatro hotéis no Estado, diz também que está "começando a ficar otimista", pois a construção civil está reagindo.