Correio Braziliense, n. 21708, 23/08/2022. Política, p. 3

Lula: “Resultado será aceito”

Victor Correia


Candidato do PT ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva chamou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de “cópia malfeita” do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que tentou desqualificar o resultado das eleições americanas em 2020, vencidas por Joe Biden.

“Bolsonaro é uma cópia malfeita do Trump. O Trump também tentou evitar aceitar o resultado (das eleições americanas). Tentaram invadir o Capitólio, e (Trump) teve que ceder”, afirmou o petista, em entrevista à imprensa estrangeira. “Tenho certeza de que, no Brasil, o resultado vai ser aceito, sem nenhum questionamento. (...) É dado a quem perde o direito de lamentar, o direito de chorar.”

 Sobre a relação do Brasil com outros países, Lula disse que, se eleito, pretende recuperar a relevância brasileira no cenário global. Ele também criticou a guerra entre Rússia e Ucrânia e o conflito da China com Taiwan.  

“O Brasil fará todo o esforço que tiver ao seu alcance na conversa com outro chefe de Estado para que a gente estabeleça novamente a paz. Não interessa a ninguém, neste momento, qualquer guerra. O mundo está precisando de paz”, frisou.

Lula também defendeu uma reformulação da Organização das Nações Unidas (ONU). “A ONU precisa ser reforçada para que tenha mais força para evitar que esses conflitos se prolonguem”, acrescentou.

Em relação à América do Sul, o ex-presidente prometeu tratar os vizinhos com respeito e revisar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, firmado em 2019, após 20 anos de negociações. O tratado ainda não está em vigor, já que precisa ser aprovado pelo parlamento de todos os países envolvidos.

Para Lula — que defende um processo de reindustrialização do Brasil em seu programa de governo —, os termos do acordo podem colocar em xeque o processo. Entre os itens está a remoção de tarifas para importação de automóveis e outros produtos europeus. “O Brasil não é obrigado a concordar com um acordo que não respeita aquilo que é desejo do Brasil. O que nós queremos é sentar com a União Europeia e discutir, em função das necessidades da União Europeia e das nossas, os direitos que cada um tem.”

 

Janja

O presidenciável também criticou ataques à sua mulher, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja. “Jamais envolvi qualquer mulher de presidente em campanha. Aliás, eu jamais incluí problemas pessoais dos meus adversários na política. Não quero saber se meu adversário é católico, se é evangélico, se ele cheira ou não cheira, se bebe ou não bebe”, ressaltou. “Quando você começa a envolver mulher em campanha é porque não tem o que falar. Partindo de quem parte, a gente sempre tem de esperar o pior. Daquele mandacaru não nasce flor cheirosa, é só coisa ruim”, completou.  

Nos bastidores da campanha de Bolsonaro, estuda-se a ideia de usar imagens de Janja ligadas a religiões de matriz africana para desgastar o apoio ao petista entre os evangélicos. Em suas redes sociais, a socióloga tem fotos com símbolos do candomblé e da umbanda. A ideia é usar tais imagens nas propagandas eleitorais gratuitas, que têm início na sexta-feira.

À noite, o presidenciável participou do lançamento do livro O Brasil no Mundo: 8 anos de governo Lula, também na capital paulista. O material é um compilado de fotos de Ricardo Stuckert, que foi fotógrafo oficial da Presidência da República durante os governos do petista e que ainda o acompanha.  

O livro contém fotografias de reuniões entre o petista e outros chefes de Estado pelo mundo. A estratégia da campanha é sinalizar o reconhecimento que o presidenciável teve no cenário internacional, enquanto a participação brasileira tornou-se tímida durante a gestão Bolsonaro.