Título: Turismo é prioridade
Autor: Paulo Senise*
Fonte: Jornal do Brasil, 01/10/2005, Outras Opiniões, p. A11

Relegado durante muito tempo a um segundo plano, o setor de turismo vive neste momento uma conjunção especial, transformando-se finalmente numa prioridade no Rio e no país. Aqui no estado, além de já contarmos com uma importante articulação entre as Secretarias municipal e estadual de turismo, as principais entidades de representação empresarial incorporaram a defesa do setor como uma de suas bandeiras para a retomada do desenvolvimento econômico e social do Rio.

Isso fica claro com o convite para que Philip Carruthers, presidente do Rio Convention & Visitors Bureau, assuma a coordenação do Fórum de Turismo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). E ganha ainda mais importância após a posse do novo presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Olavo Monteiro de Carvalho, na qual ele define o turismo como a prioridade de sua gestão.

O turismo tem potencial de gerar uma verdadeira revolução na economia fluminense. Aproveitando a moda sobre o Brasil no exterior - uma verdadeira febre em vários países -, o Rio já captou este ano 132 eventos de caráter técnico-científico, sendo 43 deles internacionais. E isso ainda é pouco: o Brasil ocupa apenas a 14ª posição no ranking de países que mais atraem eventos internacionais, de acordo com a International Congress & Conventions Association (ICCA). Nosso potencial de crescimento é, portanto, imenso.

Isso fica claro quando analisamos outros indicadores do turismo no Rio. Em 2004, a cidade recebeu 1,8 milhão de turistas, com um crescimento de 19% em relação ao ano anterior. Apesar de extremamente relevante, esse número poderia ser tranqüilamente maior do que o dobro. A experiência de outros países, como Espanha, Argentina, Chile, México, deixa isso claro.

Caso isso acontecesse, o impacto econômico na cidade seria imenso. Segundo dados do setor, para cada milhão de turistas que visitam o Brasil são criados 55 mil empregos diretos e 130 mil indiretos, além da entrada de US$ 1 bilhão na economia. O setor de turismo no Brasil gerará uma atividade econômica de US$ 55 bilhões em 2005, sendo responsável por 5,8 milhões de empregos, o equivalente a 7% de toda a oferta de mão-de-obra do país.

O crescimento do número de turistas depende de uma série de fatores, sendo que alguns deles já estão em pleno desenvolvimento. A decisão de se concentrar a promoção internacional do Brasil nas mãos da Embratur foi acertada e já vem dando frutos importantes. Além disso, já temos uma série de iniciativas no sentido de aumentar e melhorar nossa infra-estrutura turística, reforçar a capacitação de nossa mão-de-obra, desenvolver novos destinos etc.

Mas uma medida que consideramos de fundamental importância - e que já conta com o apoio do novo presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro - ainda precisa do apoio das autoridades, particularmente do Ministério das Relações Exteriores, para ser aprovada. Refiro-me à anacrônica exigência de vistos para a entrada de turistas americanos no Brasil, que impede um aumento significativo da chegada desses visitantes.

O setor de turismo entende a política de reciprocidade adotada pelo Itamaraty, mas não consegue aceitar que não haja formas de se flexibilizar o processo de concessão de visto para os cidadãos norte-americanos, se considerarmos o importante impacto econômico que essa medida pode ter em termos de geração de emprego e de atração de divisas para o país. A política atual é um verdadeiro tiro no pé para o Brasil e beneficia apenas nossos concorrentes diretos no mercado internacional.

Já temos um projeto em debate no Congresso Nacional para acabar com esse anacronismo. Até porque o Rio seria a cidade mais beneficiada pela flexibilização dessas exigências. O setor de turismo precisa definitivamente de apoio, consenso e bom-senso por parte de nossas autoridades.

*Paulo Senise é diretor-executivo do Rio Convention & Visitors Bureau