Título: Fracassa acordo com a China
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/10/2005, Economia & Negócios, p. A19

Fracassou a tentativa de Brasil e China chegarem a um acordo para limitar as exportações de determinados produtos chineses ao país. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, voltou ao Brasil ontem depois de duas reuniões com o ministro do Comércio da China, Bo Xilai, sem obter sucesso.

Apesar de Furlan afirmar que as conversas continuam, o setor privado já se prepara para apresentar pedidos de salvaguarda - mecanismo que pode restringir temporariamente as importações da China. A medida ainda depende de procedimento do governo, o que os empresários aguardam para os próximos dias.

- Não existe a hipótese de continuarmos esperando. Já esperamos demais. Vamos esperar todas as fábricas fecharem para usarmos as salvaguardas? - ataca Humberto Barbato, diretor de Comércio Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

Synézio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), diz que está pronto o pedido de salvaguarda dos 318 associados.

- Quero ser o primeiro a apresentar o pedido - disse Costa, que integrou a missão de empresários que negociou com os chineses antes da chegada de Furlan a Pequim.

Atualmente, os produtos do país asiático têm mais da metade do mercado nacional de brinquedos. Calçados, têxteis, eletroeletrônicos e pneus são outros setores afetados pelo forte aumento da entrada de produtos chineses. A importação de calçados cresceu 121,4% entre janeiro e junho de 2005, ante igual período do ano passado.

Quando ingressou na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, a China aceitou a aplicação de salvaguardas ''específicas'', apenas contra seus produtos, por um período de 12 anos. Mas as empresas só poderão usar o mecanismo depois que ele for regulamentado.

O governo resistiu durante meses às pressões do setor privado pelas salvaguardas. O objetivo era evitar o confronto com a China, considerado um ''parceiro estratégico'' do Brasil.

Na tentativa de manter boas relações com os chineses, o Brasil reconheceu a China como economia de mercado, antecipando um status que o país só obterá dos demais sócios da OMC em 2016. Em resposta, o país esperava gestos que a China nunca realizou. A maior decepção foi a campanha contrária à pretensão do Brasil de ingressar no Conselho de Segurança da ONU. A China se opôs à proposta porque ela foi apresentada em conjunto com o Japão, arqui-rival chinês.

Tanto a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), quanto a do Rio (Firjan) voltaram a criticar ontem a decisão do Brasil de reconhecer a China como economia de mercado e de retardar a regulamentação de salvaguardas.

''A história do relacionamento recente entre o Brasil e a China tem sido marcada por uma sucessão de erros decorrentes da confusão entre as agendas política e comercial externas brasileiras'', atacou a Fiesp.

O Conselho Empresarial de Relações Internacionais da Firjan cobrou medidas drásticas.

''Os efeitos contundentes da agressiva presença de produtos chineses no mercado brasileiro estão a merecer providências corretivas mais urgentes, efetivas e diretas'', disse em nota.

Com agências