Valor Econômico, v. 20, n. 4911, 03/01/2020. Política, p. A5

Gesto de Flávio Dino a Huck deixa PT em alerta

Malu Delgado


A discreta movimentação do governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), por alianças mais amplas da esquerda em 2022 já provoca reações no PT. Dino se encontrou, em dezembro, com o apresentador de TV Luciano Huck. De acordo com interlocutores que acompanharam a conversa, o apresentador não foi categórico em nenhum momento sobre sua candidatura presidencial em 2022, mas sondou o governador maranhense sobre o futuro político do PC do B, diante da cláusula de barreira somada à proibição de coligações proporcionais a partir de 2020. Huck também quis saber opiniões de Dino sobre o Cidadania, o antigo PPS, dirigido por Roberto Freire. A sigla seria um possível destino para Huck, caso decida disputar a eleição.

O governador do PC do B também tem encontro marcado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo, na segunda quinzena de janeiro. O encontro com Huck, em dezembro do ano passado, ocorreu no Rio, quando o governador havia sido convidado para dar uma palestra na capital. A ponte entre os dois foi feita pelo ex-governador do

Espírito Santo Paulo Hartung, com quem Flávio Dino tem uma relação amistosa e próxima. Ao longo de 2019, Dino e Huck se encontraram duas vezes.

Após a divulgação da conversa de Dino com Huck, o deputado federal Paulo Teixeira, vice-presidente nacional do PT, publicou ontem em seu Twitter um comentário que denuncia o incômodo do partido: “Ou com Lula ou com Haddad, @FlavioDino estará na nossa chapa nas próximas eleições presidenciais”. Ex-juiz federal, Flávio Dino filiou-se ao PC do B em 2006 e vem sendo apontado como um nome novo da esquerda para as próximas disputas presidenciais.

As conversas que têm o governador do Maranhão como protagonista coincidem com um movimento de inovação no PC do B e, ao mesmo tempo, externam as dificuldades do PT em ampliar alianças com a esquerda. Nas próximas semanas devem ser definidos nomes para as eleições de 2020, e há expectativa de apoio dos petistas a candidaturas de outras legendas, em especial a de Manuela D’Ávila (PC do B) em Porto Alegre e de Marcelo Freixo (Psol) no Rio. Correntes do PT, no entanto, resistem e querem nomes próprios nas duas capitais.

Dirigentes do PC do B sustentam que vão lançar candidaturas próprias em praticamente todas as capitais exatamente para tentar dar algum fôlego ao partido. Nos bastidores, no entanto, as possibilidades de uma futura fusão ou incorporação não estão totalmente descartadas. No ambiente partidário, o governador do Maranhão tem defendido a  necessidade de se buscar uma nova saída política não apenas para as pequenas legendas, mas também para a esquerda brasileira.

Dino é entusiasta de uma frente ampla, termo que curiosamente surgiu em nota divulgada pelo PC do B, no dia 30 de dezembro, negando mudanças nas marcas históricas e no nome da sigla. “Próximo a completar cem anos de atividades ininterruptas, em março de 2022, o Partido Comunista do Brasil lança um processo de aglutinação de amplas forças democráticas, populares e patrióticas, o Movimento 65, com vistas a fortalecer a oposição ao bolsonarismo, uma séria ameaça à Nação e a suas conquistas democráticas”, diz a nota. O partido aponta as eleiç deste ano como “parte importante dessa resistência democrática”.

O Movimento 65 vai preparar lideranças para as eleições. Em vários trechos, a nota cita a necessidade de aglutinação de forças. “O PC do B entende que a defesa da democracia é a primeira condição para o propósito de apontar um novo rumo para o país. Em torno dela, é possível formar uma ampla frente patriótica, que tem nas eleições municipais de 2020 um grande desafio.” Desde que seu nome apareceu na lista de apostas de 2022, especula-se que Dino deixará o PC do B para se abrigar num partido mais robusto. O PSB seria uma das possibilidades. O governador, no entanto, disse a aliados que aguardará as definições futuras do PC do B para só então tomar uma decisão. (Colaborou Carolina Freitas)