Valor Econômico, v. 20, n. 4911, 03/01/2020. Empresas, p. B8

Brasil mantém liderança em venda de agrotóxicos

Marina Salles


A contínua expansão da agricultura no Brasil voltou a gerar bons resultados para as empresas de agrotóxicos que atuam no país na safra 2018/19, cujas colheitas foram concluídas ao longo do semestre do ano passado.

Pesquisa realizada pela consultoria Kleffmann Group com produtores mostra que, em volume, as vendas totais de defensivos cresceram 7% em relação ao ciclo 2017/18, para 809,7 mil toneladas. Em dólar, a receita caiu 5%, para US$ 11,5 bilhões, mas em virtude da valorização da moeda americana - em real, houve alta de 9%, para R$ 42 bilhões, conforme cálculos do Valor Data baseado no câmbio médio de 2019.

Mesmo com a queda do faturamento do segmento em dólar, o Brasil continuou a ser o maior mercado do mundo em vendas de agrotóxicos, à frente dos EUA. Em larga medida, essa liderança reflete o clima tropical do país, que favorece a proliferação de pragas e doenças.

Com um aumento de 2,1% da área plantada em 2018/19 - que não foi acompanhado pelo avanço da colheita, em razão de problemas climáticos -, a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, puxou o incremento do volume de vendas de defensivos ao longo do ciclo, segundo a Kleffmann. O milho, cuja área cresceu 5,3%, e o algodão, com aumento de 37,8%, também colaboraram para a expansão.

Com o incremento dos preços em real, destaca Matheus Almeida, analista do Rabobank no Brasil, as despesas dos produtores de soja com defensivos responderam, em média, por 32% do custo de produção dentro da porteira, enquanto no milho o percentual ficou em 14%.

“Com o aumento dos preços dos defensivos nos últimos anos, muitos produtores têm buscado substituir os produtos mais caros por similares mais baratos”, disse. Nesse sentido, os agricultores contam com o apoio do Ministério da Agricultura, que liberou um número recorde de agrotóxicos no país em 2019, a maior parte genéricos.

O índice de preços do Rabobank mostra que, no caso dos herbicidas, que lideram as vendas, houve alta média de 52% de preços em real no Brasil nos últimos cinco anos, enquanto os fungicidas subiram 53% e os inseticidas, 38% - a inflação acumulada no período foi de 30,6%.

Olhando para o topo da lista dos produtos mais comercializados no país, segundo dados do Ibama, o movimento se repete. Entre os líderes de vendas em suas respectivas categorias - glifosato (herbicida), mancozebe (fungicida) e acefato (inseticida) -, o único com tendência de queda no custo em dólar por hectare em cinco anos é o glifosato, conforme levantamento da Kleffmann feito a pedido do Valor.

O custo do tratamento com glifosato, que foi de US$ 33,58 por hectare em 2015, passou a US$ 20,38 por hectare em 2019, queda de quase 40%. Em reais, com base no câmbio médio anual apurado pelo Valor Data, o recuo foi de R$ 28,5%, para R$ 112,11 por hectare.

“Embora com a entrada de genéricos no mercado a tendência seja de queda de preços dos defensivos, o custo por hectare gasto na safra, que é quanto o produtor desembolsa no fim das contas [e que vai depender do custo total do tratamento, da dose aplicada e da resistência de pragas e doenças], não reflete esse comportamento”, afirmou Leonardo Antolini, gerente de atendimento da Kleffmann.

Conforme dados do Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) do Ministério da Agricultura, há no Brasil 117 registros de defensivos à base de glifosato, que é o herbicida mais usado no mundo, e 43 empresas concorrem na fabricação de formulações com o produto.

No caso do mancozebe, fungicida multissítio - ou seja, que ataca diversos pontos do metabolismo do fungo, a fim de evitar resistência - há 71 registros de produtos, nas mãos de 22 companhias. Já para o inseticida acefato, que controla pragas como o ácaro rajado, broca do algodoeiro, pulgão da couve e lagarta da soja - existem 27 registros, de 13 fabricantes.

Túlio Teixeira de Oliveira, diretor executivo da Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos (Aenda), que representa 48 empresas, disse que a maior parte dos players do segmento de genéricos no Brasil é de fora do país, sobretudo da China e Índia, e que o foco está sempre nas margens de lucro.

“As empresas se voltam para aquilo que dá lucro. Há um investimento grande em fábricas e em tempo para conseguir novos registros”, justificou. Há cerca de 115 empresas com registro de agrotóxicos genéricos no Brasil, segundo Oliveira. Ele lembra que no início dos anos 2000 o número de genéricos aumentou muito no mercado, o que gerou queda de preços, e a expectativa dos produtores é que o mesmo aconteça neste ano.

Marcelo Morandi, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, disse, porém, que embora o lançamento de produtos genéricos tenda a gerar uma redução de preços, há limites para a queda. “O preço já parte da referência do produto de marca e cai até certo ponto, porque há os custos de produção”.

Segundo ele, as quebras de patente do acefato e do mancozebe se deram há mais tempo que a do glifosato, por isso o efeito gerado pelas versões genéricas do herbicida nas vendas totais ainda é maior. A patente do glifosato caiu no ano 2000 e, em 2004, houve o registro do primeiro genérico.