Correio Braziliense, n. 21712, 27/08/2022. Política, p. 4
Estratégia de comparação dos governos
O horário eleitoral dos candidatos à Presidência começa a ser exibido, hoje, em rádio e TV aberta, com estratégias diferentes. Mas, os dois principais adversários na corrida presidencial lançarão mão do mesmo recurso: a comparação entre os respectivos governos, incluindo denúncias de parte a parte.
Líder nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não vai deixar de mencionar polêmicas ligadas ao presidente, como escândalos de corrupção no atual governo e o caso das “rachadinhas”, investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
A campanha de Bolsonaro aposta no antagonismo com Lula e nos escândalos que marcaram a gestão petista, como o Mensalão e a corrupção na Petrobras. Para as pautas conservadores, lançará mão do carisma da primeira-dama, Michelle. A recuperação da economia brasileira também será explorada, assim como apelos ao patriotismo e aos militares.
Para Natália Mendonça, especialista em marketing político da universidade ESPM, a estratégia comparativa é positiva na maioria dos casos, mas as campanhas devem ficar atentas à rejeição. “Fazer comparativos é muito bom na comunicação política. O problema disso é que cada uma das campanhas, ao fazer uma comparação, pode trazer uma ótica diferente para si”, ponderou.
“Todo governo tem números bons e números ruins. Então, qual dessas comparações será mais eficiente? A questão é qual das visões vai ser mais compatível com o que está na cabeça do eleitor”, analisou Mendonça.
Na campanha de Ciro Gomes (PDT), o argumento continuará sendo o de que ele representa uma alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro. Ciro vem adotando, na internet, uma linguagem voltada aos jovens, e deve manter a linha nos programas de rádio e tevê.
Simone Tebet (MDB), quarta colocada nos levantamentos, aposta suas fichas nas 184 inserções a que ela terá direito na programação. Com uma chapa formada por mulheres (a senadora Mara Gabrilli, do PSDB-SP, é candidata a vice), o foco será reforçar a identificação com o público feminino.
Segundo o cientista político Alexandre Rocha, a campanha eleitoral deste ano mostra uma recuperação da influência das mídias tradicionais. Ele lembra que, em 2018, as redes sociais protagonizaram a campanha, mas, hoje, ele observa um movimento contrário, que pode afetar quem aposta nas mídias não convencionais. “Eles terão uma certa desvantagem. Bolsonaro fez uma campanha fundamentada nisso. Esse cenário não se repete agora, e ele está tentando a mídia tradicional. A rede social fala justamente com aqueles que são seus eleitores, e não com o público amplo.” (*JGF)
Leia em: https://flip.correiobraziliense.com.br/edicao/impressa/3660/27-08-2022.html?all=1