Valor Econômico, v. 20, n. 4839 18/09/2019. Política, p. A7

Bolsonaro diz a Moro que Valeixo permanece na PF

 Fabio Murakawa
 Isadora Peron

 

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem ao ministro da Justiça, Sergio Moro, que manterá o delegado Maurício Valeixo no cargo de diretor-geral da Polícia Federal. A decisão foi tomada durante reunião entre ambos no Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro se recupera da cirurgia para corrigir uma hérnia incisional realizada há dez dias em São Paulo.

A promessa, se cumprida, ajuda a arrefecer os ânimos, no momento em que começam a aparecer fissuras entre “lava-jatistas” e bolsonaristas na base política e congressual do presidente.

Essa divisão já teve consequências como a desfiliação da senadora Selma Arruda (MT) do PSL, partido de Bolsonaro. Ela alegou ter sofrido pressões para recuar da CPI da Lava-Toga. O senador Major Olímpio (PSL-SP) acusou uma articulação feita pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e disse que quem deveria deixar o partido era o filho do presidente.

No encontro, Moro pediu a Bolsonaro que mantivesse Valeixo, um antigo aliado, no posto. Segundo fontes, o presidente cedeu aos apelos do ministro.

Depois da reunião, Bolsonaro afirmou a interlocutores que daria “mais um tempo” a Valeixo. Próximo de Moro, o delegado foi superintendente da PF no Paraná. Valeixo está viajando de férias e volta ao trabalho amanhã. A expectativa geral até ontem na PF era a de que o diretor-geral fosse demitido tão logo retornasse, o que tem gerado apreensão entre colegas e aliados. A notícia de que pode permanecer surpreendeu integrantes da cúpula da instituição, que davam como certa a sua saída.

Auxiliares de Bolsonaro ainda trabalham por outros nomes para substituir o comandante da PF. O mais cogitado é o delegado Anderson Gustavo Torres, atual secretário de Segurança do Distrito Federal. Ele é próximo do ministro Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral, e hoje é tido como um dos ministros mais próximos do presidente.

A possível saída de Valeixo vem sendo um dos principais focos de atrito entre o presidente e o ministro da Justiça. O delegado começou a balançar no cargo em meados do mês passado, quando Bolsonaro anunciou que Ricardo Saadi deixaria o cargo de superintendente da PF no Rio por problemas de “gestão e produtividade”.

A declaração foi rebatida em nota pela PF, que afirmou que Saadi sairia por vontade própria. A PF também indicou que o cargo, no Rio, seria ocupado por Carlos Henrique Oliveira Sousa, atual superintendente  de Pernambuco.

Bolsonaro então declarou que era ele quem mandava na PF e que a sua escolha para o posto era Alexandre Silva Saraiva, hoje locado no Amazonas.

Dias depois, o presidente voltou a demonstrar que poderia interferir na corporação ao dizer que, caso não pudesse escolher o nome que iria ocupar a superintendência do Rio, iria nomear um novo diretor-geral.

A fala de Bolsonaro causou reações na cúpula da PF, com ameaças de entregas de cargos em bloco e críticas sobre a interferência do presidente em um assunto interno da corporação. Para aplacar os ânimos, Moro chegou a visitar a superintendência do Rio e fez um elogio público a Valeixo.

Na reunião de ontem com Moro no Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que daria uma nova chance ao diretor-geral. Nas conversas que manteve com outros interlocutores ao longo do dia, porém, o presidente não deixou claro se essa é uma decisão de caráter definitivo ou provisório.

Procurado pela reportagem, Moro disse que não se pronunciaria a respeito do assunto. O ministro tem evitado a imprensa. Ontem, ao dar uma palestra em São Paulo, pediu aos organizadores que a imprensa não entrasse com câmeras fotográficas ou de filmagem. Ordem cumprida à risca pela segurança do evento, que também não admitiu a presença de jornalistas com celulares ou gravadores.