Valor Econômico, v. 20, n. 4839 18/09/2019. Política, p. A7
 

Crise de articulação do PSL afeta o governo
 Andrea Jubé
 Marcelo Ribeiro 

 

O partido do presidente Jair Bolsonaro enfrenta uma crise de articulação política no Congresso que resultou em três comissões parlamentares de inquérito que desagradam o Palácio do Planalto e alas do partido. O PSL só tentou barrar a CPMI das Fake News no Supremo Tribunal Federal quando ela estava prestes a ser instalada, não atuou para impedir adesões à CPI da Lava-Jato e rachou no apoio à CPI da Lava-Toga.

Nesse cenário, o deputado Filipe Barros (PR), um dos mais atuantes na CPMI das Fake News, se tornou coordenador da bancada e passou a organizar a atuação dos deputados nas comissões. O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), nega a desarticulação, mas reconheceu o racha no Senado quanto à investigação dos tribunais superiores.

No primeiro semestre, o partido deixou correr solta a colheita de assinaturas para abertura da investigação de esquemas de criação e impulsionamento de notícias falsas, que influenciaram as eleições de 2018. Três senadores e um deputado do PSL endossaram a criação da CPMI, que hoje é chamada de “tribunal de exceção” do governo Bolsonaro pela troca  de choque do PSL no colegiado.

Somente depois que o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), anunciou a iminente instalação do colegiado às vésperas do recesso de julho, o vice-líder do PSL, Filipe Barros, tentou suspender a investigação no STF.

Pela disciplina e capacidade de organização, Barros também foi escalado para coordenar a bancada nas comissões temáticas. Ele distribui missões aos colegas e permanecerá no front da CPMI. Outra orientação à bancada, repleta de estreantes, é que não assinem requerimentos às pressas em abordagens nos corredores.

O PSL também não agiu para tentar conter a adesão de aliados ao requerimento de criação da CPI da Lava-Jato, que poderá investigar a atuação como juiz do ministro da Justiça, Sergio Moro, e as mensagens que ele trocou com procuradores da força-tarefa pelo Telegram, e que vieram a público após ação de hackers.

O requerimento articulado pela oposição com apoio dos partidos do Centrão foi protocolado na última semana, autorizando uma investigação com potencial constrangedor para a operação. Agora a efetiva instalação depende de ato do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

No Senado, o PSL assumiu em peso a linha de frente da criação da CPI da Lava-Toga, que investigará o suposto ativismo dos tribunais superiores. Favorecido por decisão do presidente do STF, Dias Toffoli, na ação em que teve descoberto o sigilo bancário pelo antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o senador Flávio Bolsonaro (RJ)  destoou do time ao atuar nos bastidores para desidratar o requerimento.

O líder Major Olímpio argumenta que as duas bancadas votam sempre afinadas com os projetos de interesse do governo. Enfatizou que trabalhará pela aprovação do nome do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos.

No entanto, Olímpio admitiu que houve um “desarranjo” na articulação em relação ao senador Flávio Bolsonaro por causa da Lava-Toga, já que as outras duas senadoras da sigla - Juíza Selma (MT) e Soraya Thronicke (MS) - ficaram ao lado dele nessa questão.

Olímpio chegou a cobrar a saída de Flávio do PSL. Ao Valor, ele disse que não o vê como “filho do presidente”, e sim como um colega de Senado. “A Selma ficou mais agastada com a situação, deve sair do partido depois disso tudo”, completou.

Ontem, lideranças dos partidos de Centro entraram em campo para distensionar os ânimos e construir um acordo para garantir o avanço dos trabalhos da CPMI das Fake News. O embate central é a alegação do PSL de que a oposição quer transformar a comissão em um “terceiro turno” das eleições de 2018.

O líder do DEM, deputado Elmar Nascimento (BA), propôs que os trabalhos comecem pela oitiva da ministra Damares Alves, que deseja falar à CPMI sobre os crimes cibernéticos, principalmente na chamada “deepweb”, que têm induzido crianças e adolescentes à automutilação e até mesmo ao suicídio. PSL e PT não se opuseram à participação da ministra na comissão.

“Está todo mundo de espírito armado, vamos baixar a guarda”, exortou Nascimento. Ele propôs passar os temas consensuais na frente para que as questões polêmicas relacionadas ao uso de fake news nas eleições sejam discutidas posteriormente.

Os ânimos se acirraram ainda mais depois que o presidente da CPMI, senador Ângelo Coronel (PSD-BA) declarou à imprensa na semana passada que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, poderia ser convocado, e nessa condição, se mentisse, poderia ser preso. A tropa de choque do PSL, formada por Filipe Barros, Bia Kicis (DF) e Caroline de Toni (SC), argumenta que o objeto da CPMI foi desvirtuado e houve acordo para politizar a investigação.