Valor Econômico, v. 20, n. 4839 18/09/2019. Internacional, p. A8

Brasil será alvo das atenções na semana do clima de NY


Na Cúpula de Ação Climática que acontece entre 21 e 23 de setembro em Nova York, na sede da ONU, governantes de 80 a 100 países podem se comprometer com metas de redução de gases-estufa mais ambiciosas. A questão é que são promessas de pequenas ilhas e nações menos desenvolvidas. Nenhum dos grandes emissores está na lista, indicativo de que neste momento não há ambiente político e nem lideranças globais para enfrentar a mudança do clima.

O vácuo político no evento convocado pelo secretário-geral da ONU António Guterres, que culmina na segunda-feira com a presença de pelo menos 100 chefes de Estado, será ocupado por um grande número de empresas e de organizações não governamentais.

A cúpula abre a semana do clima de Nova York, evento anual que ocorre na cidade desde 2009 aproveitando a presença na cidade dos chefes de Estado que vão para a Assembleia Geral da ONU.

A edição deste ano, que vai até dia 29, promete ser efervescente, com mais de 220 conferências e eventos relacionados a clima espalhados por Nova York.

Organizadores do movimento Friday for Future, da jovem ativista sueca Greta Thunberg, dizem preparar a “maior mobilização climática já vista” na sexta-feira, dia 20. A expectativa é ter 4482 eventos em 132 países, inclusive o Brasil.

O Brasil deve estar na berlinda. São esperados protestos, faixas e iniciativas nas redes sociais contra o governo de Jair Bolsonaro e evidenciando as queimadas e o desmatamento da Amazônia. A ida de Bolsonaro à Assembleia Geral - é o discurso do Brasil que abre o evento - ainda depende de avaliação médica. No caso de ele não poder ir, o discurso deve ser feito pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Um grupo de empresários, cientistas, governos, comunidade internacional e representantes da sociedade civil organiza um evento paralelo, nas instalações da ONU. Trata-se do “Diálogo sobre a Amazônia Possível”, na manhã de domingo. O esforço assinado pela Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura, o Pacto Global da ONU e um grupo de empresas do Sistema B quer discutir desenvolvimento e preservação ambiental e descolar-se da imagem de ilegalidade dos crimes na Amazônia.

A cúpula de Guterres, por seu turno, terá discursos dos governantes da Nova Zelândia, Índia, Alemanha, Costa Rica, China, Noruega, Nigéria, Maldivas, Equador, entre outros países, segundo a agenda a que o Valor teve acesso. O Brasil não está na lista que tem CEOs de empresas como a Danone, a seguradora Allianz e a empresa de energia Engie, por exemplo.

Estão previstas falas dos presidentes do Banco Mundial e da Fundação Melinda e Bill Gates, do governador da Califórnia Gavin Newsom ou do economista Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra.

O evento do secretário-geral da ONU não faz parte da rodada de negociações climáticas que acontece nas conferências conhecidas como CoPs - a edição deste ano será no Chile. É um esforço pessoal de Guterres de conseguir urgência e maior ambição dos países com os compromissos climáticos. “Tragam planos, não discursos”, disse Guterres aos chefes de Estado, para que se consiga ter “emissões líquidas zero em 2050”.