Valor Econômico, v. 20, n. 4850, 03/10/2019. Política, p. A15

Aras defende Lava-Jato e ouve apelo de Bolsonaro

Murillo Camarotto
Isadora Peron
Andrea Jubé 


Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, o novo procurador-geral da República, Augusto Aras, tomou posse ontem com um discurso com forte tom religioso, no qual afirmou que “não há poder do Estado que esteja imune à ação do Ministério Público”.

Em uma cerimônia prestigiada por governadores, parlamentares, ministros de tribunais superiores, advogados e empresários, o novo PGR fez uma defesa entusiasmada da Operação Lava-Jato e disse que, em sua gestão, o enfrentamento “intransigente” à corrupção será prioridade.

“O juiz Sergio Moro, outros magistrados do Rio, de Brasília, de São Paulo, de Curitiba, e procuradores de vários lugares sempre serão lembrados com a coragem que desenvolveram suas missões”, afirmou Aras, em um momento em que as críticas à investigação se acumulam.

Em sua fala, Bolsonaro disse que sua relação com Aras foi “amor à primeira vista” e pediu que os procuradores evitem excessos durante investigações.

“O apelo que faço, apenas, a todos do Ministério Público: é importante investigar, é importante fazer cumprir a lei, mas, por muitas vezes, se nós estivermos num caminho não muito certo, que muitas vezes estamos fazendo aquilo bem intencionados, nos procurem para que possamos corrigir”, disse o presidente.

O PGR disse ainda que o “arsenal” que Bolsonaro lhe entregou é “poderoso e imbatível”, mas pontuou que essa “missão” exige “competência” e responsabilidade. “É evidente que o Ministério Público deve ser atuante, mas deve ser responsável”, afirmou.

Aras disse que não vai admitir um Ministério Público omisso à vastidão do território brasileiro e à “nossa cultura judaico-cristã”. Também garantiu que não admitirá “compadrio” ou “aparelhamento” dentro da instituição.

O novo PGR voltou a afirmar que vai fazer um mandato com foco no desenvolvimento econômico do país, mas com respeito ao meio- ambiente e às minorias - dois temas bastante sensíveis no governo Bolsonaro.

O discurso aconteceu durante uma cerimônia de posse realizada na sede da PGR. Na semana passada, Aras já havia participado de uma solenidade no Palácio do Planalto, quando assinou o termo de posse e assumiu oficialmente o comando do MPF.

O nome do novo PGR foi aprovado pelo Senado na quarta-feira da semana passada, por um placar de 68 votos a 10. Ele foi indicado pelo presidente para substituir Raquel Dodge, cujo mandato terminou no dia 17.

Em viagem internacional, Dodge não transmitiu o cargo ao sucessor.

Dois anos atrás, quando ela assumiu a PGR, também não foi prestigiada por Rodrigo Janot, que deixava o comando do órgão após dois mandatos.

O aumento da notoriedade pública da PGR, na esteira dos escândalos de corrupção da última década, teve como efeito colateral um processo de transição mais tenso do que no passado. Os dois últimos chefes da PGR não ficaram em primeiro lugar na eleição promovida pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Aras, inclusive, sequer disputou o pleito.

A expectativa é que Aras estreie hoje no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, quem representou a PGR na Corte ainda foi o vice-presidente do Conselho Superior do MPF.