Valor Econômico, v. 20, n. 4840 19/09/2019. Política, p. A10
 

Recondução no CNMP é rejeitada
 Renan Truffi
 Luísa Martins 

 

A maioria dos senadores decidiu rejeitar ontem a recondução de dois conselheiros do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), considerados simpáticos à Operação Lava-Jato. O pedido foi negado por um placar de 24 votos a favor e 36 contra, além de uma abstenção, para Lauro Machado Nogueira e Dermeval Farias Gomes.

A decisão surpreendeu parte dos parlamentares, que atribuem a articulação ao senador Renan Calheiros (MDB-AL). O parlamentar alagoano tem feito sucessivos pedidosde afastamento do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. Coincidentemente, pouco antes da votação, Renan havia feito mais um discurso contra Deltan e anunciado nova representação contra o procurador da Lava-Jato.

Em resposta, partidos como Rede e PSL anunciaram obstrução para tentar derrubar a sessão. Isso porque, segundo senadores favoráveis à Operação Lava-Jato, a articulação envolvida derrubou ainda um terceiro conselheiro, Marcelo Weitzel, que também teria uma conduta mais próxima de setores lavajatistas e depende de recondução.

Diante das críticas e do risco de a sessão cair, Alcolumbre (DEM-AP), decidiu retirar de pauta a recondução de Weitzel.

O Valor apurou que Demerval, Lauro e Marcelo tornaram-se alvos da “velha guarda” do Senado, recentemente, depois de votarem a favor do arquivamento de um processo contra Deltan no CNMP, protocolado pela senadora Kátia Abreu (PDT-TO), aliada de primeira hora de Renan.

Em 27 de agosto, por 8 a 3, os conselheiros votaram contra um pedido da parlamentar para que o procurador fosse punido pela divulgação, nas redes sociais, de uma notícia sobre suposta propina da Odebrecht à senadora. A denúncia, no entanto, já havia sido arquivada pela Justiça. Um dos três nomes do CNMP que votaram a favor da punição foi o do

Ainda durante a votação, Kátia Abreu reagiu às críticas de senadores que questionavam a articulação. “Fica parecendo que esta votação aqui foi obscura, que foi um complô. Foi um voto! Cada um votou do jeito que quis, cada um votou do jeito que pôde. Agora, colocar o Brasil contra esta Casa e dizer que esse voto é contra a Lava-Jato, preste atenção, porque um dia o pau dá em Chico, um dia dá em Francisco. E nós estamos vendo o que está acontecendo por aí nos TREs dos Estados. Não adianta vir dar de moralista aqui, não. Nós conhecemos o histórico de todos os moralistas que passaram por esta Casa”, afirmou.