Valor Econômico, v. 20, n. 4840 19/09/2019. Política, p. A12
 

Flávio determina que PSL entregue cargos no Rio
 Cristian Klein 

 

Diante de resistências no PSL fluminense em respeitar sua decisão, anunciada burocraticamente pela bancada do partido na Assembleia Legislativa, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) reafirmou ontem, em nota oficial, a determinação de que integrantes da legenda deixem o governo de Wilson Witzel. O primogênito do presidente Jair Bolsonaro disse que quem quiser manter o cargo deve se desfiliar do PSL. “A direção da executiva estadual do PSL-RJ, representada pelo seu presidente Flávio Bolsonaro, comunica que filiados ao partido não devem exercer cargos no governo Wilson Witzel. Aqueles que quiserem permanecer devem pedir desfiliação partidária", afirma o texto. 

Flávio, que está em viagem à China, disse que “nossa oposição não será ao Estado do Rio, mas ao projeto político escolhido pelo governador Wilson Witzel. Lamentável ainda ver na imprensa críticas e declarações infelizes sobre o presidente Jair Bolsonaro. O PSL-RJ reitera seu compromisso com a recuperação do Estado do Rio de Janeiro”, conclui a nota.

A gota d’água para a decisão de abandonar Witzel ocorreu depois de declaração em que o governador afirmou ter sido eleito sem a ajuda da família Bolsonaro. Desde o início do ano, porém, o governador do Rio diz que seu projeto principal em 2022 é concorrer à Presidência da República, o que tem irritado Flávio e o pai. Jair Bolsonaro, no entanto, postou mensagem pelo Twitter na segunda-feira afirmando que não ordenou a debandada do governo Witzel: “Não determinei nada! Fake news!”.

Com isso, e pela afinidade ideológica com o Palácio Guanabara, deputados estaduais e federais têm demonstrado indisposição em atender a ordem do senador, que comanda o diretório fluminense. O PSL tem dois secretários estaduais, o de Ciência, Tecnologia e Inovação, Leonardo Rodrigues, segundo suplente de Flávio no Senado; e a pasta de Vitimização

Para o líder do governo Witzel na Assembleia, Márcio Pacheco (PSC), “a bancada do PSL não se manifestou dentro do Parlamento, com nenhuma medida” concreta em direção ao rompimento, “apesar da posição clara do senador Flávio Bolsonaro”. “Não há nenhuma ruptura efetiva, não há nada que não seja passível de diálogo. Tem muita convergência”, disse Pacheco ao Valor. 

Pelos cálculos do parlamentar, porém, a saída dos 12 deputados do PSL da base aliada, caso realmente se concretize, pode causar um estrago. Hoje, dos 70 integrantes da Assembleia, 50 formariam a base de sustentação do governador; três têm atuação mais independente; e 17 estão na oposição (Psol, PT, PSDB, PSB, Novo, PDT e PCdoB). Sem a bancada do PSL, o apoio cairia para 38, abaixo do mínimo de 42 votos para aprovação de matérias de preceito constitucional. “Pode nos trazer um problema sério”, afirmou Pacheco. O líder do governo lembra que a Casa deve votar matérias polêmicas como a renovação do Regime de Recuperação Fiscal, a desvinculação de receitas e o Fundo de Combate à Pobreza.