Valor Econômico, v. 20, n. 4948, 27/02/2020. Política, p. A8

Maia trava debate sobre definição de sucessor na Câmara
Raphael Di Cunto
Marcelo Ribeiro 


A sucessão do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em fevereiro de 2021 já conta com múltiplos candidatos nos bastidores, mas até agora só um se lançou oficialmente, o capitão Augusto Rosa (PL-SP), coordenador da bancada da bala, cuja candidatura é tratada mais como um movimento para fora do Legislativo - como o presidente Jair Bolsonaro fez ao longo de anos para se diferenciar dos demais parlamentares - do que uma articulação com chances reais de vitória.

Os demais candidatos preferem atuar nos bastidores para evitar virarem alvo de denúncias e, principalmente, para não desagradar Maia, que já avisou: ainda não sabe quem será seu candidato, mas sabe que trabalhará contra quem tentar antecipar a eleição e esvaziar o seu poder.

O cenário para sucessão está fragmentado e praticamente todos os partidos de centro tem um ou mais nomes interessados na disputa. O Progressistas tem dois: o líder da bancada na Câmara, Arthur Lira (AL), e o líder da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), ambos de terceiro mandato. Eles cobram uma promessa de Maia, durante a eleição passada, de apoiar alguém do PP e esperam que o partido chegue a um entendimento, junto com ele, sobre quem será o escolhido.

Outras siglas do Centrão, contudo, também têm expectativa de contar com a simpatia do presidente da Câmara. O presidente do MDB e líder da bancada na Câmara, Baleia Rossi (SP), tem se movimentado, enquanto Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos e vice-presidente da Câmara, atuou recentemente para manter a influência na bancada evangélica como um passo para chegar ao cargo. Silas Câmara (Republicanos-AM) mudou o estatuto da frente e se reelegeu para coordenar os evangélicos até fevereiro, mês da eleição.

Esses candidatos, embora com força dentro dos partidos e no plenário, enfrentam resistência de parte dos novos deputados - que são quase metade da Câmara - por causa da citação de seus nomes em denúncias da operação Lava-Jato. Eles negam terem participado de desvios e dizem que não há sequer condenação, anos após as denúncias. Lembram ainda que o próprio Maia se reelegeu em cenário parecido.

As denúncias, contudo, alimentam a esperança de candidatos mais novos que tentam concorrer como alternativas. Marcelo Ramos (PL-AM), de primeiro mandato, mas que presidiu a comissão especial da reforma da Previdência e agora a da proposta de emenda constitucional (PEC) da prisão em segunda instância, tenta se colocar como alguém articulado com oposição e situação. Elmar Nascimento (BA), ex-líder do DEM, fez um inflamado discurso contra o Centrão e procura se tornar presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) este ano.

Outra que busca correr por fora é a primeira secretária da Câmara, Soraya Santos (PL-RJ), que comanda a “prefeitura” da Casa, responsável pelas obras e licitações. Desde que assumiu, ela iniciou reformas nos acessos do Legislativo, sistema de encanamento e, agora, promete construir banheiros nos gabinetes de todos os deputados. Além disso, coordenou na legislatura passada a bancada feminina, que a ajudou a chegar ao cargo de direção contra a vontade de seu próprio partido, o que ainda gera rusgas com sua legenda.

Enquanto o centro se movimenta, a direita ainda espera a definição de brigas internas, como o tamanho do PSL e do Aliança pelo Brasil, e saber qual a força do presidente Jair Bolsonaro no Legislativo antes de se posicionar. Na eleição anterior, ele procurou não influenciar publicamente, enquanto o agora ex-ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), tentavam construir uma candidatura alternativa à de Maia, mas foram atropelados pelo presidente da Câmara.

A oposição também está dividida por causa de interesses nacionais, com a disputa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex- governador Ciro Gomes (PDT), e ainda não sabe se terá candidato próprio - nem se marchará unida. A estratégia mais ouvida, porém, é apoiar um nome de centro, que evite alinhamento automático com o governo. Nesse sentido, grande parte do grupo flerta com uma emenda à Constituição para permitir a reeleição de Maia.