Valor Econômico, v. 20, n. 4842 21/09/2019. Brasil, p. A6

Esforço climático dos países precisa subir muito, diz estudo

 Daniela Chiaretti 

 

O nível de ambição dos países quanto à mudança do clima deveria triplicar para que se consiga limitar o aquecimento global a 2 °C. E deveria quintuplicar para se conter o aquecimento a 1,5 °C, conforme consta do Acordo de Paris.

Esses são alguns dos pontos-chave do relatório “Unidos pela Ciência”, síntese das mais recentes conclusões da ciência elaborada pelo conselho científico da ONU para a Cúpula de Ação Climática, que ocorre hoje em Nova York.

Esse relatório, que acaba de ser lançado, dá subsídios para que o secretário-geral da ONU, António Guterres, convoque os líderes globais a ampliar os esforços para proteger conter o aquecimento.

Não há boas notícias. O gelo no verão do Ártico caiu 12% por década entre 1979 e 2018. Os valores menores da camada de gelo foram registrados entre 2015 e 2019. 

A perda de gelo anual na Antártida aumentou seis vezes entre 1979 e 2017. A perda de gelo nos glaciares nos últimos cinco anos é a maior já registrada.  A temperatura média global de 2015 a 2019 deve ser a maior já registrada em qualquer período de cinco anos. A estimativa é que esteja 1,1 °C acima do período pré-revolução industrial e 0,2 °C mais quente que no período 2011-15.

As emissões globais de combustíveis fósseis continuam a crescer acima de 1% ao ano, chegando a 2% em 2018. Os impactos da mudança do clima são mais fortes e vêm ocorrendo antes do previsto. Mesmo com o crescimento das energias renováveis em muitas economias, o mundo segue queimando combustíveis fósseis como nunca. Petróleo, carvão e gás dominam o sistema de energia global. As concentrações de CO2 e outros gases-estufa, como metano e N2 0, continuam subindo.

Cálculos de cientistas indicam que as metas climáticas adotadas pelos países no Acordo de Paris, conhecidas pela sigla NDCs, levam a um aquecimento global entre 2,9 °C e 3,4 °C no fim deste século.

“Tecnicamente é possível cobrir esta lacuna”, diz o relatório. O estudo traz as mais recentes conclusões científicas sobre mudança do clima, seus vetores e impactos. Ele foi produzido por cientistas da Organização Meteorológica Mundial, da ONU Meio Ambiente, do Global Carbon Project, do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima e de outras agências das Nações Unidas e institutos.

O crescimento do impacto climático eleva o risco de que o mundo ultrapasse os “pontos de não retorno”. No caso da Amazônia, por exemplo, seria o fim da floresta e seu processo de savanização.