Valor Econômico, v. 20, n. 4842 21/09/2019. Brasil, p. A8
 

Salles quer que governo tenha “papel mais decisivo” na gestão de fundo
 Daniela Chiaretti

 

“O governo tem que ter um papel mais decisivo”, disse o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, referindo-se ao Fundo Amazônia. “Estamos no meio das negociações, que estão avançando. Vamos ver até que ponto temos convergência e tomar as decisões no momento adequado.”

Salles, que está em Nova York durante a semana do clima, tem reunião hoje com o ministro Gerd Müller, da Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha.

As negociações com os doadores do Fundo Amazônia, Noruega e Alemanha, estão correndo desde março, quando Salles decidiu fazer uma operação pente-fino no BNDES, gestor do fundo. Ele discorda da gestão de decisão dos projetos. A governança do Fundo era tripartite - governo federal, governos estaduais e sociedade civil.

“As conversas não estão concluídas. Temos visões diferentes, mas negociação é assim”, afirmou. “Queremos usar estes recursos. Mas quem vai escolher como serão colocados é o governo brasileiro. Temos que ter mais destaque do que tínhamos antes. Quanto a isso, de ter papel preponderante nas decisões, não vamos abrir mão.”

Uma fonte revelou que as negociações avançam mais com o governo alemão, o maior parceiro socioambiental do Brasil e com fortes interesses comerciais no país. Contudo, é da Noruega que vêm a maior parcela dos recursos do Fundo Amazônia, com uma proporção de mais de 90% do total. Salles fica em Nova York até amanhã e depois segue para Berlim, Londres e Paris. Falará com o setor privado e a imprensa, assim como fez em Washington e Nova York. “Temos um problema de comunicação”, acredita, buscando desfazer a imagem negativa do governo de Jair Bolsonaro no exterior.

Em Washington, Salles avançou as negociações sobre a criação de um fundo capitaneado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID, com recursos de governos e empresas, “se assim o quiserem”, diz.

A ideia principal é ter investimentos privados na Amazônia nas cadeias relacionadas à bioeconomia. “Queremos colocar de pé a indústria da bioeconomia ligada a cosméticos, farmacêuticos e alimentação. Tudo o que pode decorrer da riqueza da biodiversidade na Amazônia”, disse. “De tal forma que a gente tenha um fundo que foque na floresta em pé, como mais valiosa que a floresta devastada. Em termos de valor econômico, não apenas no discurso. Para gerar negócios, empregos e lucro.”

A intenção, agora, é identificar quais são os gargalos “para que a agenda da bioeconomia realmente se efetive na Amazônia”, defendeu o ministro. Na visão de Salles, é preciso “facilitar a pesquisa e o desenvolvimento na Amazônia”. Ele diz que “falta melhor arcabouço de registro de patentes, de incentivos tributários e uma estrutura que traga o setor privado para que abram frentes de investimento na região”.