Valor Econômico, v. 20, n. 4843 24/09/2019. Brasil, p. A3
 

Fundo para florestas terá US$ 500 milhões
Daniela Chiaretti

 

“A maior floresta tropical do mundo é crucial para qualquer solução climática pela sua capacidade de sequestrar carbono, pela sua biodiversidade, pela água fresca, pelo ar que vivemos. E está queimando”, começou o ator Harrison Ford, vice-presidente da Conservation International. “Quando uma sala na sua casa queima, você não diz ‘um dos meus quartos está queimando’. Temos apenas uma casa. A cobiça está vencendo a batalha na Amazônia.”

Na mesa estavam os presidentes da França, Emmanuel Macron, da Colômbia, Iván Duque, e do Chile, Sebastián Piñera, que construíram a iniciativa Aliança para as Florestas Tropicais. Havia ainda outros chefes de Estados como a alemã Angela Merkel e o boliviano Evo Morales.

No evento, que começou às 8h de ontem, em sala lotada na sede da ONU em Nova York, Macron anunciou um fundo de cerca de US$ 500 milhões para proteger as florestas tropicais.

São recursos modestos para lidar com a dimensão do problema na Amazônia, e os presidentes reconheceram que o desafio “é da ordem de bilhões de dólares”.

O Banco Mundial e a Alemanha anunciaram também parceria global, a Progreen, para ajudar a parar o desmatamento, restaurar terras degradadas, melhorar a vida das pessoas pobres e as comunidades rurais e reduzir a emissão de gases do efeito estufa. A Alemanha contribuirá com € 200 milhões para a iniciativa.

O presidente francês lamentou a ausência de representantes brasileiros no encontro. “O Brasil é bem-vindo. Acho que todo mundo quer trabalhar com o Brasil”, afirmou Macron, que vem trocando farpas com o presidente Jair Bolsonaro envolvendo a questão da Amazônia.

Depois, contudo, criticou o fato de o Brasil não valorizar recursos internacionais para ajudar na proteção da floresta e citou o que vem ocorrendo com o Fundo Amazônia, que não tem recebido recursos de Noruega e Alemanha devido à polêmica das queimadas.

O pacto de Letícia, firmado por países amazônicos no início de setembro (inclusive pelo Brasil, representado pelo chanceler Ernesto Araújo), foi citado como um esforço a ser implementado.

“Foi um momento importante. Lamento muito que o Brasil não esteja participando de uma notícia importante como esta”, disse Mauricio Voivodic, diretor-executivo da ONG WWF Brasil.

“Precisamos proteger o que temos, restaurar o que perdemos e desmontar os mecanismos, os subsídios perversos, as políticas fundiárias e os investimentos institucionais que alimentam o desmatamento”, seguiu Harrison Ford. “Entende-se que sem a Amazônia, sem proteger a maior floresta tropical do mundo, não podemos conseguir uma solução climática. E nada mais do que fizermos importa.”