Título: Escolaridade avança, renda cai
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 05/10/2005, Economia & Negócios, p. A21

Embora o nível de escolaridade do trabalhador brasileiro tenha melhorado, aumentou o percentual de profissionais que ganham até três salários mínimos. Entre 2001 e 2003, o contingente de pessoas recebendo os menores salários avançou de 58,1% para 64,2%. Já o analfabetismo entre os trabalhadores com carteira assinada recuou de 1,7% para 1% e a proporção de trabalhadores com ensino fundamental incompleto caiu de 29,7% para 26%. Os dados constam do Perfil do Trabalhador Formal Brasileiro, pesquisa elaborada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho.

O estudo revela, ainda, que a maior parte dos trabalhadores brasileiros com carteira assinada são homens, de 30 a 49 anos, de baixa escolaridade e com renda de um a três salários mínimos. Os dados da Rais contemplam um contingente de 29 milhões de pessoas.

Do total de trabalhadores da Rais, 4,7% ganham até um salário-mínimo; 59,5%, de um a três mínimos; 16,2%, entre três e cinco mínimos; 12,3%, entre cinco e dez mínimos; e 7,1%, mais de dez mínimos. Entre os que ganham mais de três salários mínimos houve redução de 41,7% para 35,5%.

É a segunda vez que o Sesi utiliza dados da Rais para realizar o levantamento. Na primeira edição foram avaliados os dados de 2001. A diretora de operações da entidade, Mariana Raposo, acredita que, embora os dados mostrem um maior empobrecimento do trabalhador, houve uma melhora no rendimento médio.

- Os que tinham os piores salários tiveram uma melhoria, houve elevação no salário. Isso acabou redistribuindo melhor a renda - disse Mariana, explicando que o cálculo da renda é feito por faixas de salário mínimo, o que pode distorcer as comparações. - Como houve aumento real do mínimo nesses anos, há um decréscimo nas faixas, mas o trabalhador está ganhando mais em termos reais.

A escolaridade média do trabalhador brasileiro ainda está muito aquém da média de outros países, mas houve avanço em relação à pesquisa realizada há dois anos, lembra a diretora do Sesi. Apesar dos avanços nos níveis de alfabetização e de ensino fundamental, 43,4% dos trabalhadores não chegaram ao ensino médio e apenas 14,7% terminaram o curso superior. Dos trabalhadores formais, 29,5% completaram o ensino médio e 3,8% entraram na faculdade mas não concluíram o curso.

Dos trabalhadores com rendimento até um salário-mínimo, 41,7% estão na região Nordeste; 34%, no Sudeste; e 11,9%, no Sul. Na faixa acima, entre um e três mínimos, a proporção muda: 19,1% estão no Nordeste; 49%, no Sudeste; e 19%, no Sul. Do contingente de trabalhadores analfabetos, 46,7% estão no Nordeste; 32,7% no Sudeste, 9,1% no Sul; 6,9% no Centro-Oeste e 4,5% no Norte.

O setor de serviços é o que mais emprega, com 31,7% dos trabalhadores. O comércio contrata 17,3% e a indústria, 18,1%. Os demais setores, como o agrícola, empregam 27,8% dos trabalhadores formais.

Por gênero, a mulher estuda mais que o homem. Entre os analfabetos, 80,7% são homens. Com superior completo, 55,9% são mulheres. Com o ensino médio completo há equilíbrio: 48,8% de mulheres e 51,2% de homens. Do total de trabalhadores formais, 40% são mulheres e ganham menos que os homens. Dos empregados com mais de dez salários-mínimos, 32% são mulheres.

Mariana Raposo, comemora os avanços, mas pondera que, na América Latina, considerando-se a população com mais de 15 anos, a média de estudo é de dez anos. No Brasil ela ainda não chegou a seis.

Quanto à faixa etária, 52,1% têm entre 30 e 49 anos; 11,5%, mais de 50 anos; e 1% tem menos de 17 anos.

Mariana Raposo afirma ainda explica que os dados da pesquisa são fundamentais para a entidade elaborar seus programas de educação e responsabilidade social.