Título: Propostas ao desenvolvimento
Autor: Rodrigo da Rocha Loures
Fonte: Jornal do Brasil, 09/11/2004, Economia, p. A18

A garantia do crescimento sustentável da economia brasileira, com estabilidade de preços, exige um adequado sistema de intermediação financeira, que canalize recursos para o setor produtivo. Após mais de quatro décadas de inflação consentida e de quase três décadas de recessão, a imposição de fortes metas para conter a inflação pode apenas fragilizar a economia e beneficiar interesses específicos. Inflação não se combate com juros elevados e sim com aumento de produtividade. Isto é o que conduz o país ao desenvolvimento sustentado. Consideramos que neste cenário a política monetária deva ser um coadjuvante, obrigatório, mas não central para que o drama tenha um final feliz e o espetáculo agrade e beneficie a todos os setores da sociedade, segmentos produtivos e, o próprio governo.

Trabalhando neste sentido, organizamos a Academia Paranaense de Desenvolvimento, com a participação de empresários e doutores das principais universidades da região. Nos encontros realizados, o papel da intermediação financeira no desenvolvimento tem sido tema predominante. Por isso elaboramos um elenco de sugestões para mudanças no curso da política econômica do país: 1 ¿ Adotar metas de inflação constantes ou levemente declinantes, evitando assim que elevações na taxa Selic inibam a manutenção da retomada do crescimento econômico.

2 ¿ A autonomia operacional do Banco Central deve limitar-se aos instrumentos de política, ficando a definição de metas de inflação para o Conselho Monetário Nacional.

3 ¿ Incluir no Conselho Monetário Nacional membros dos diversos setores produtivos do país.

4 ¿ O Banco Central deve apresentar um programa efetivo e definido para reduzir as margens operacionais do sistema bancário.

5 ¿ Reduzir o peso da tributação incidente nas operações financeiras para o setor produtivo.

6 ¿ Adotar medidas visando à redução dos custos de inadimplência.

7 ¿ Reduzir progressivamente os depósitos compulsórios premiando os bancos que melhor atuem na redução dos spreads.

8 ¿ Negociar a desindexação dos contratos de serviços públicos, reforçando o papel do mercado, das agências reguladoras, e eliminando privilégios.

9 ¿ Adotar um padrão de núcleo de inflação para reduzir o impacto de choques externos, uma vez que neste caso a política de juros é ineficaz.

10 ¿ Evitar a valorização do real, garantir a promoção de exportações e adotar política tributária favorável à reinversão dos lucros pelas empresas.

Este conjunto de proposições pode recuperar o vigor do setor produtivo nacional, já que nossas empresas vivem hoje como esportistas de alta performance, que não atingem suas melhores marcas por causa da desnutrição. A principal refeição do dia ainda consiste em financiamento reduzido, temperado com juros elevados. Assim, não há corpo empresarial que resista e nem desenvolvimento que se sustente.

A melhoria do sistema financeiro brasileiro criará condições para a transferência de recursos ao setor produtivo, estimulará o espírito empresarial, alocará empréstimos com prazos compatíveis e captará poupança externa para complementar as necessidades de investimento interno. Um novo sistema de intermediação financeira, diversificado e eficiente, pode contribuir, e muito, para a retomada do desenvolvimento. Crédito abundante expande a produção, o que resulta em aumento simultâneo da produtividade ¿- o maior antídoto para conter pressões para elevação de preços. Com uma política econômica dinâmica e eficiente podemos afugentar o fantasma de uma terceira década de raquíticos resultados econômicos.