Título: FGV vai mapear origem de reajustes
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 09/11/2004, Economia, p. A19

Nova apresentação do Índice de Preços por Atacado permitirá ao Banco Central conduzir política de juros com mais precisão

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) alterou a forma de apresentação do Índice de Preços por Atacado (IPA), para permitir o mapeamento da origem dos reajustes de preços ao longo da cadeia produtiva. O índice, que será detalhado hoje pela primeira vez, na divulgação do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de outubro, distribuirá os 462 itens acompanhados em três estruturas: matérias-primas, bens intermediários e bens finais, num total de 19 subdivisões. O modelo anterior, que classificava os produtos como de origem ou de destino, com quatro subdivisões no total, continuará sendo calculado, mas não deverá mais ser utilizado. De acordo com a FGV, o objetivo da mudança é permitir uma melhor compreensão do processo de transmissão de preços ao longo da cadeia produtiva. A metodologia do índice, que passa a se chamar IPA-EP (segundo Estágios de Processamento), não sofrerá mudanças, ou seja, serão feitos os mesmos cálculos de antes para se chegar ao percentual mensal de variação. Os produtos pesquisados continuarão os mesmos.

- Estamos jogando luzes sobre o processo de repasse de preços, elevando a precisão dos instrumentos de política monetária, tão importante num sistema de metas inflacionárias - explica o economista Wagner Ardeo, da FGV.

A classificação segundo estágios de processamento já é utilizada em outros países, como Estados Unidos, Canadá, Itália e Espanha. O raciocínio da metodologia baseia-se no fato de que uma economia pode ser dividida em segmentos distintos, que se inter-relacionam de forma seqüencial. Assim, o produto da primeira etapa serviria de insumo na segunda etapa e assim sucessivamente, até atingir a demanda final.

- A passagem dos preços do atacado para o consumidor, não entanto, não é de forma direta nem tem o mesmo peso - alerta Rebeca Barros, coordenadora de metodologia do Ibre/FGV - Numa das etapas, por exemplo, o empresário pode optar por absorver um custo, diminuindo sua margem de lucro, em função da concorrência local.

Ao abrir as séries históricas com a nova metodologia, pesquisadores da FGV verificaram que os itens que compõem o segmento de matérias-primas brutas apresentam as maiores oscilações.

- Isso se explica pela influência da sazonalidade, no caso dos alimentos, e das variações das commodities, que transmitem as oscilações de preços no exterior de forma quase instantânea ao mercado interno - explica Rebeca. - Mas nem sempre os aumentos chegam aos preços finais, que não variam na mesma proporção.

A análise das séries históricas permite concluir, também, que os combustíveis são o grande vilão do processo produtivo. A variação acumulada desde 1999 nos itens aplicados na produção de bens intermediários, que compreendem óleo diesel, óleo combustível, querosene de aviação e lubrificantes, foi de 366%, a maior de todos os segmentos. O aumento dos combustíveis nos preços por atacado dos bens de consumo finais constitui o terceiro maior da série, de 205%. A sazonalidade faz da variação dos alimentos in natura a segunda maior de toda a série: 287,11%.