O Globo, n. 32669, 16/01/2023. Política, p. 6

Desconfiança

Jeniffer Gularte
Paula Ferreira
Bruno Abbud
Alice Cravo


Alvo de desconfiança do entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde antes da invasão de golpistas ao Palácio do Planalto, no último dia 8, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) passará por uma renovação dos quadros herdados do governo Bolsonaro. Dos 80 integrantes de cargos de confiança que compõem o órgão, apenas sete foram exonerados desde a posse do petista — menos de 10% do total.

A avaliação de ministros é que os militares responsáveis por zelar pela sede do Poder Executivo foram ineficientes durante os atos terroristas sem precedentes na história do país.

— O GSI está sendo mudado e será mudado quase na sua integralidade, quase 100% dele será renovado. Já começou e todas as pessoas serão renovadas para ter uma oxigenação e para botar pessoas com maior treinamento, com maior capacidade de ação e de reação — disse o ministro da Casa Civil, Rui Costa, em entrevista ao GLOBO.
Hoje, o GSI é composto por cerca de 1.100 servidores — incluindo o pessoal da área administrativa —, sendo 80 integrantes de cargos de confiança. As mudanças promovidas até agora ocorreram de forma pontual na Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial e em departamentos ligados à logística e à capacitação.
A maioria do efetivo do GSI é composta por militares das Forças Armadas, principalmente em áreas sensíveis como na segurança de autoridades e instalações. Mas também há civis que integram, em especial, as áreas administrativa e de planejamento.

 

No governo Bolsonaro, o GSI era comandado pelo general da reserva Augusto Heleno, que chegou a ser cotado para ser vice na chapa do ex-presidente em 2018. O órgão é composto majoritariamente por militares, uma das categorias mais alinhadas ao bolsonarismo.

O GSI teve sua atuação questionada por não ter conseguido impedir que golpistas invadissem o Planalto. O episódio gerou desgaste para o general da reserva Gonçalves Dias, escolhido por Lula para chefiar a pasta formada majoritariamente por militares. O GSI não respondeu aos questionamentos do GLOBO.

— Eu não consigo imaginar a Casa Branca sendo invadida. O uso de todas as forças na última instância seria utilizado para impedir isso. Deveria ter sido utilizada a energia máxima para impedir o que ocorreu — afirmou o ministro da Casa Civil.

Na tarde de 8 de janeiro, quando os golpistas acessaram as dependências do Planalto, o contingente do órgão era de apenas 40 homens.

Em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, o responsável pela segurança do Planalto no momento da invasão, o militar José Eduardo Natale de Paula Pereira, do GSI, afirmou que só no Salão Nobre do segundo pavimento do prédio havia cerca de 700 pessoas, ou seja, o equivalente a 17 invasores para cada segurança.

“Havia por volta de 40 homens na tropa de choque do GSI para fazer a contenção dos milhares de manifestantes”, declarou Pereira. “Havia gritaria, barulho de cornetas e barulho de bombas. A maioria dos manifestantes vestia roupas verde e amarelo e outras roupas camufladas e desferiam palavras de ordem contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, informando que não aceitavam ele como presidente legítimo”, acrescentou.

O baixo efetivo se somou ao fato de que, na véspera da invasão, o GSI decidiu dispensar reforço no Batalhão da Guarda Presidencial. A determinação, feita por escrito, ocorreu cerca de 20 horas antes do ato golpista, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo. O batalhão é uma unidade do Exército, vinculada ao Comando Militar do Planalto (CMP), com atribuição de cuidar da segurança do Planalto.

Responsável pela segurança do Planalto, o militar José Eduardo Natale de Paula Pereira afirmou em depoimento à Polícia Civil que havia 40 homens no Palácio para conter a invasão. Ele disse que só no Salão Nobre havia cerca de 700 pessoas, ou seja, o equivalente a 17 invasores para cada segurança.

Cerca de 20 horas antes da invasão do Planalto, o GSI dispensou, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o pelotão de 36 homens do Batalhão da Guarda Presidencial que reforçava a segurança do prédio.

O GSI só formalizou pedido de reforço, na tarde de domingo, após o general Geraldo Henrique Dutra Menezes, chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), enviar, por iniciativa própria, 113 homens e equipamento de choque para o Palácio.

Novo protocolo

O reforço da guarda presidencial foi mantido durante o sábado, quando a segurança do prédio havia sido ampliada. Mas, no domingo, o Planalto amanheceu apenas com o efetivo da guarda normal e sem recursos para controlar a multidão. O pelotão que havia sido dispensado retornou ao Planalto somente na tarde de domingo, após o CMP ter entrado em contato com o GSI, por iniciativa própria, e demandado a volta do reforço. O general Geraldo Henrique Dutra Menezes, chefe do CMP, enviou às 15h uma companhia com 133 homens e equipamento de choque.

Outros dois grupos de militares também foram enviados ao prédio que abriga a sede da Presidência da República, nas horas seguintes, com 93 e 118 militares. O GSI formalizou o pedido de reenvio de reforço apenas depois que o general comunicou que havia solicitado a presença de mais homens para proteger as instalações dos golpistas. Foi neste momento que foi acionado o “plano escudo”. Militares informaram que era do GSI as responsabilidades de pedir reforço para a guarda do Planalto e de acionar a medida.

Além da renovação da equipe do GSI, o governo está traçando um novo protocolo de segurança para o Planalto. Imagens de câmeras de segurança estão sendo utilizadas para rever as falhas que permitiram o acesso de invasores.

Também está em estudo o ensaio periódico de contenção de invasores e evacuação em simulações de caso de risco.

— É preciso repensar, replanejar e treinar muito. Adotar modelos mais rígidos, firmes e duros de proteção das instituições para que não se repita nunca mais — diz Costa.