Título: Novo roubo na sede da Polícia Federal
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 05/10/2005, Rio, p. A16

Agentes responsáveis pela auditoria interna na Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá, constataram que 17,5 dos 20 quilos de cocaína, apreendidos em 2004 e armazenados no quarto andar do prédio, foram trocados por outra substância. A droga substituída e o roubo de R$ 2 milhões em euro, dólar e real aconteceram no mesmo local: a sala-cofre da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). De acordo com os policiais, cerca de 2,5 toneladas de drogas permanecem depositadas na sala-cofre à espera de autorização judicial para serem incineradas. - Comparamos as informações do auto de apreensão e do laudo pericial com os aspectos das embalagens da droga. Não batiam - explicou um policial da auditoria, que aguarda para hoje o resultado do exame pericial para saber qual foi o material utilizado.

O superintendente José Milton Rodrigues revelou, ontem, que os policiais afastados da DRE, há 15 dias, também são suspeitos de mais esse crime. Os 20 quilos de cocaína, apreendidos no interior de um ônibus na Serra das Araras, em Piraí, estavam com Cleide Maria de Souza e Elizabeth da Penha dos Santos, presas em flagrante em 12 de outubro de 2004. Acusado de negligência pela sindicância aberta para apurar o roubo dos R$ 2 milhões, o escrivão Fábio Marut Kahir, da DRE, poderá ter a prisão temporária decretada ainda hoje com base no inquérito que apura a substituição da droga por outro material.

- Eu estava de férias quando a cocaína voltou do Serviço de Criminalística. Venho todo dia aqui, mas não tenho onde trabalhar - defendeu-se Fábio Kahir, que garante já ter prestado mais de 20 depoimentos desde que o dinheiro desapareceu da sede da PF.

O superintendente disse que pediu a quebra dos sigilos fiscal e bancário dos policiais federais suspeitos de terem feito o roubo. Sem revelar quantos agentes estão envolvidos, José Milton Rodrigues confirmou que cerca de 100 policiais, servidores e funcionários terceirizados já foram afastados, remanejados ou transferidos, conforme o JB antecipou. Apenas quatro das 20 delegacias especializadas e núcleos não sofreram mudanças.

- As chefias devem ser substituídas a cada três anos e tinha gente com mais de quatro anos no cargo - justificou o superintendente.

José Milton Rodrigues garantiu que tem 95% de certeza de que resolverá o caso do roubo dos R$ 2 milhões antes de deixar o cargo, em abril de 2006. Ele é o 18º superintendente em 38 anos de existência da Polícia Federal no Rio. Há quatro meses sob correição extraordinária (auditoria interna), a PF vive a maior crise da história desde que ocupa, há 23 anos, o prédio da Praça Mauá.

- Para mim é uma questão de honra prender os culpados. Precisamos das provas, ou seja, falta localizar o dinheiro para efetuarmos as prisões - disse Rodrigues.

Na sexta-feira, a equipe de investigação utilizou dois agiotas como isca para atrair os policiais que cometeram o crime. A estratégia não deu certo, mas o inquérito aponta para a participação de dois receptores do dinheiro furtado.

Até ontem, 105 pessoas foram ouvidas na sindicância que apura as falhas administrativas no roubo dos R$ 2 milhões. No inquérito policial, o delegado Marcos Cotrim já interrogou 16 policiais, entre os quais os suspeitos de terem praticado o furto.