Valor Econômico, v.20, n. 4918, 14/01/2020. Brasil p.A2

 

Base na Antártica é reaberta ao custo de R$ 100 milhões

 

Quase oito anos depois do incêndio que a destruiu em 2012, a Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira na Antártica, será reinaugurada hoje. O novo prédio, que fica na ilha Rei George, na Baía do Almirantado, está sendo erguido ao lado da atual base, que tem estrutura provisória.

As novas instalações contam com 17 laboratórios, oito dos quais equipados com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC). O governo investiu cerca de US$ 100 milhões na obra. No local, pesquisadores vão realizar estudos nas áreas de biologia, oceanografia, glaciologia, meteorologia e antropologia.

O titular do MCTIC, ministro Marcos Pontes, e o vice-presidente Hamilton Mourão participam da solenidade de reinauguração.

De acordo com o MCTIC, a pasta investiu R$ 18 milhões em pesquisas na Antártica. Em 2019 foram destinados R$ 2 milhões para equipar a nova estação com laboratórios, de biociências, bioensaios I e II, triagem, uso comum, microbiologia, biologia molecular e química - os oito de responsabilidade do MCTIC. A Estação Comandante Ferraz foi criada em 1984. Dois militares morreram e 70% das instalações foram perdidas no incêndio de 2012.

De acordo com Mourão, a estação “vai dar melhores condições de trabalho” aos pesquisadores brasileiros e manter a presença do país “no trabalho que está sendo feito pela comunidade científica internacional, de buscar respostas e avanços no conhecimento, na tecnologia, outras áreas que são pesquisadas”

A estação ocupa 4,5 mil metros quadrados e poderá hospedar 64 pessoas, segundo a Marinha. Cientistas da Fiocruz estão entre os primeiros a trabalhar na nova estação, desenvolvendo pesquisas na área de microbiologia, a partir da análise de fungos que só existem na Antártica, e no poder medicinal desses micro-organismos. A Agência Internacional de Energia Atômica (Aeia) também já confirmou que vai desenvolver projetos meteorológicos na base brasileira.

Para ficar acima da densa camada de neve que se forma no inverno, o prédio recebeu uma estrutura elevada. Os pilares de sustentação pesam até 70 toneladas e deixam o centro de pesquisa a mais de três metros do solo. Os quartos da base, com duas camas e banheiros, abrigarão pesquisadores e militares. A estação também tem uma sala de vídeo, locais para reuniões, academia de ginástica, cozinha e um ambulatório para emergências.

Em todas as unidades da base foram instaladas portas corta-fogo e colocados sensores de fumaça e alarmes de incêndio. Nas salas em que ficam máquinas e geradores, as paredes são feitas de material ultrarresistente. No caso de um incêndio, elas conseguem suportar o fogo durante duas horas e não permitem que ele se espalhe por outros locais antes da chegada do esquadrão anti-incêndio.

A estação tem ainda uma usina eólica para gerar energia a partir dos os ventos antárticos. Placas para captar energia solar também foram instaladas na base e vão gerar energia, principalmente no verão, quando o sol na Antártica brilha mais de 20 horas por dia.

O projeto de reconstrução da estação é todo brasileiro e começou a ser executado em 2017 pela empresa China Electronics Import and Export Corporation, que venceu a licitação.