Título: Oposição ironiza declarações do presidente
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/10/2005, País, p. A4

Ex-integrantes da bancada do governo Fernando Henrique Cardoso receberam com ironia as comparações feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a reunião de ontem com a bancada do PT. No encontro realizado no Palácio do Planalto, Lula criticou os deputados petistas por não defenderem as realizações do governo, que, segundo ele, são maiores do que os oito anos do FH.

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) chamou Lula de ''psicótico'' ao comentar as declarações do presidente.

- Só Freud explica esse comportamento. É uma atitude típica de uma pessoa que sabe da sua culpa, pois exagera nas mentiras para se convencer que são verdades - criticou.

O deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que foi líder da bancada peemedebista durante o governo tucano, ridicularizou as declarações do presidente Lula.

- Alguém precisa falar para o presidente que os petistas não defendem o governo porque a cota de mentiras está sendo toda gasta na CPI - afirmou o deputado.

Ex-líder do governo no Congresso durante do governo FHC, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) afirma que os petistas têm dificuldades para defender o governo porque acordos nunca são cumpridos por ministros.

- Isso não acontecia na época do Fernando Henrique. Hoje em dia, a palavra do líder do governo, Arlindo Chinaglia, não vale nada - atacou.

O presidente e a bancada petista criticaram as ações da comissão, chamando-a de ''CPI do Fim do Mundo''. A comissão é o principal alvo de Lula, porque aprovou acareação entre seu chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, e dois irmãos do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, que denunciam esquema de corrupção no município. Autor da proposta da acareação, o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), criticou as declarações de Lula.

- Há três meses, o presidente disse que tinha de se apurar tudo doa a quem doer. E está doendo nele próprio, já que seu chefe-de-gabinete está envolvido - disse.

Além de atacar a CPI que investiga denúncias relacionadas a jogos, Lula também culpou o Senado por não ter aprovado a Medida Provisória que proibia o funcionamento de bingos no país.

- O presidente acha que a vitória na Câmara dos Deputados lhe deu novo fôlego, por isso resolveu dizer tudo isso agora. Mas ele se esqueceu que, na Mensagem do Governo ao Congresso de 2004, a Casa Civil propôs a legalização dos bingos - acrescentou Agripino.

Se a oposição esbanjou críticas ao otimismo do presidente em suas declarações, os petistas saíram satisfeitos com o resultado do encontro. A maioria dos deputados petistas considerou positiva a reunião e segundo eles, o objetivo era definir a estratégia do governo para 2006 e não discutir pontos da crise política. O deputado Luiz Sérgio (RJ) participou do encontro e negou que a renúncia dos deputados petistas que respondem ao processo de cassação tenha entrado na pauta de discussão.

- Em nenhum momento se tratou dessa questão. O tema não esteve em pauta - negou.

Apesar de Lula ter pedido a união da bancada e ofensiva política, o presidente ''ouviu mais do que pediu'', disse Luiz Sérgio. A bancada, de acordo com ele, pediu queda na taxa de juros, mais diálogo com o governo e redução no número de medidas provisórias.

Assim como outros parlamentares, Sérgio destacou que essa decisão é pessoal.

- No meu ponto de vista, os deputados devem continuar, para enfrentar o debate, porque a renúncia pressupõe confissão de dívidas - afirmou.

Segundo o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), Lula afirmou que a solução da crise política deve ''passar pela bancada do PT''. Fernando Ferro (PE) interpretou a declaração do presidente, de que entende a situação dos parlamentares passíveis de cassação, como a possibilidade ''da mais ampla'' defesa dos acusados. Para Jorge Bittar (RJ) as reivindicações da bancada não comprometeram o clima a reunião.

No encontro com Lula compareceram, além dos deputados petistas, os ministros Jacques Wagner (Relações Institucionais) Antonio Palocci (Fazenda) Dilma Rousseff (Casa Civil) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.