O Globo, n. 32671, 18/01/2023. Economia, p. 14

Marina cobra US$ 100 bilhões de países ricos

Mônica Scaramuzzo


Em painel no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscaram mostrar a investidores estrangeiros que o Brasil inicia um novo ciclo, com sustentabilidade, combate às desigualdades e respeito à democracia.
Em seu discurso, Marina destacou que o Brasil já está atraindo novamente o interesse de investimentos estrangeiros, sobretudo ligados à filantropia, para preservar a Amazônia. De acordo com a ministra, o Fundo Amazônia deverá receber aportes da fundação Earth Alliance, presidida pelo ator Leonardo di Caprio, e do Bezos Earth Fund, criado por Jeff Bezos, dono da gigante varejista Amazon.

A ministra também cobrou o compromisso das nações desenvolvidas de repassarem aos países em desenvolvimento US$ 100 bilhões para a proteção ambiental:

— Nós temos uma boa regulação global, mas faltam os investimentos. Os 100 bilhões (de dólares) que eram o compromisso dos países desenvolvidos ainda não foram aportados. Nós temos que ter um aporte de recursos para ações de mitigação, como também de adaptação — acrescentou Marina, que cobrou também ações mais efetivas de países ricos, como a redução de emissões de combustíveis fósseis.

Já Haddad afirmou que o mercado financeiro já entendeu que o novo governo Lula será de estabilidade e previsibilidade. Durante sua fala, o ministro reforçou que seu plano é zerar o déficit do governo em dois anos e que a reforma tributária é importante.

Mais cedo, a jornalistas, Haddad disse que os detalhes do novo arcabouço fiscal, que vai substituir o teto de gastos (regra que limita o aumento das despesas da União), deverão ser definidos até abril.

Em uma parte mais política do discurso, Haddad comentou que “não há como negar que a extrema direita se organizou no Brasil”. Antes, o petista havia comentado que tem recebido apoio da comunidade internacional em relação aos atos golpistas do dia 8 de janeiro:

— Eles ficaram muito chocados, mas entendem que trabalhamos para restabelecer a democracia.

De acordo com Haddad, Lula vai defender no G20 um discurso de paz, de combate à desigualdade e à fome, além da estabilidade da democracia e a pauta ambiental.

Nova tabela do IR

O ministro afirmou ainda que o governo pretende fazer uma reforma do Imposto de Renda (IR) no segundo semestre. Segundo ele, caso a reforma tributária seja aprovada logo, a outra poderia começar na segunda metade do ano:
— No segundo semestre, nós queremos votar uma reforma tributária sobre a renda para desonerar as camadas mais pobres do imposto e onerar quem hoje não paga imposto. Muita gente no Brasil não paga imposto. Precisamos reequilibrar o sistema tributário para melhorar a distribuição de renda.

Além do painel com Marina, Haddad teve ontem uma agenda intensa de encontros com autoridades governamentais, empresários e investidores nacionais e estrangeiros. Após reunião com Kristalina Georgieva, diretor-geral do FMI, ele informou que a instituição colocou sua instituição técnica à disposição do Brasil para auxiliar o governo Lula na nova âncora fiscal:

— Eles ficaram sabendo das nossas discussões fiscais e colocaram a equipe técnica à nossa disposição, para que possamos conhecer as regras atuais em vigor e apresentar uma proposta mais crível para o Congresso.

Segundo o ministro, o FMI também está colocando em discussão a sustentabilidade política:

— Para o nosso governo, isso já era importante, mas essa questão estar no radar do FMI mostra que o tema é muito fundamental.

Já Marina se reuniu com representantes da Comissão Europeia para discutir o acordo bilateral entre Mercosul e União Europeia. Segundo ela, o Parlamento Europeu já demonstrou compromisso de negociar com o governo Lula.

Marina afirmou ainda que o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, com quem ela esteve na segunda-feira, também demonstrou interesse em financiar projetos ambientais no Brasil.