Valor Econômico, v. 20, n. 4845 26/09/2019. Internacional, p. A16
 

Aquecimento global ameaça os oceanos, diz o IPCC
 Daniela Chiaretti 

 

O aumento do nível do mar está acelerando. As plataformas de gelo da Groenlândia e da Antártica estão derretendo e liberando mais de 400 bilhões de água por ano. A área do Ártico coberta de neve no verão encolhe mais de 13% a cada década. As águas dos oceanos estão se tornando mais ácidas e perdendo oxigênio.

As geleiras, por seu turno, perderão mais de um terço de sua massa até o final do século, se as emissões de gases-estufa não forem reduzidas. Algumas áreas de montanhas irão perder mais de 80% de suas geleiras até 2100 em cenário de altas emissões.

A quantidade de animais nos mares pode diminuir 15% e o potencial máximo de captura de pesca, cair até 24% em 2100. As mudanças nos oceanos tornam os fenômenos climáticos mais extremos. Os ciclones provocam chuvas e ventos mais fortes, como já vem acontecendo no presente.

Fenômenos como El Niño e La Niña, ligados ao aumento da temperatura no Pacífico, e que têm como efeito aumento nas secas e fortes chuvas no mundo todo, devem se tornar ainda mais intensos.

Esses graves cenários fazem parte de novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), lançado ontem, em Mônaco.

O relatório reúne conhecimento científico sobre o impacto da mudança do clima nos mares e nas camadas de gelo e neve globais, a chamada criosfera.

O estudo é o mais importante diagnóstico científico sobre os impactos da mudança do clima em regiões polares, áreas montanhosas e na elevação do nível do mar.

Seu enfoque, também, é de como estes cenários podem afetar comunidades costeiras, ilhas e os ecossistemas marinhos. "Os dois oceanos polares, o Ártico e o Austral continuam a aquecer, sendo que o aumento no Oceano Austral é muito maior e cada vez mais importante no aumento global do conteúdo de calor nos oceanos", diz nota do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera.

O INCT da Criosfera, como é conhecido o instituto, é a principal instituição voltada à pesquisa polar no Brasil. Responde por 60% da pesquisa antártica feita no país.

O "Relatório Especial sobre Oceano e Criosfera em um Clima em Mudança" avaliou quase sete mil artigos científicos com contribuições de 104 autores e editores de 36 países.

"Somos um mundo oceânico e estamos levando esse sistema de suporte à vida a seus próprios limites através do aquecimento e dos processo de desoxigenação e da acidificação", diz Dan Laffoley, da Comissão Mundial de Áres Protegidas da IUCN, a União Internacional para Conservação da Natureza, uma das mais tradicionais entidades de estudos de conservação do mundo. “Já passamos da fase dos alertas. O que precisamos agora é de ações que protejam os oceanos e o clima, que por sua vez, protegem e apoiam a humanidade".

Há cenários ainda mais graves descritos no relatório do IPCC, se as emissões de gases-estufa não cairem. O degelo do permafrost, que é a camada de solo ou rochas que permanece congelada por mais de dois anos consecutivos, pode liberar "enormes quantidades de CO2 e metano na atmosfera", diz a nota enviada à imprensa.

Isso poderia significar dezenas de bilhões de toneladas de carbono lançadas à atmosfera até o final do século, acelerando mais ainda o aquecimento da temperatura. Atualmente, as emissões causadas pelas atividades humanas são de cerca de 11 bilhões de toneladas de carbono ao ano.