Correio Braziliense, n. 21724, 08/09/2022. Política, p. 4

Na orla do Rio, ataque a Lula e vários autoelogios

Vinicius Doria


Rio de Janeiro — Jair Bolsonaro conseguiu, no Rio de Janeiro, atingir um de seus objetivos no 7 de Setembro: na orla de Copacabana, na zona sul da capital fluminense, promoveu o maior evento da campanha pela reeleição até agora. Milhares de apoiadores, a grande maioria com camisetas amarelas e verdes, lotaram a Avenida Atlântica e a faixa de areia da praia. Quando o presidente da República discursou, em cima de um trio elétrico contratado pelo pastor Silas Malafaia, aviões da Esquadrilha da Fumaça ainda se exibiam nos céus de Copacabana.

O governo federal até tentou separar as atividades cívico-militares marcadas para comemorar o Bicentenário da Independência dos atos da campanha à reeleição. Mas não era possível saber onde uma terminava e a outra começava. Carros de som ocuparam toda a avenida e os maiores, incluindo o de Malafaia, estacionaram bem ao lado do palanque armado pelos militares.

No mar, navios da Marinha brasileira e de outros países permaneceram fundeados em frente à praia, enquanto paraquedistas militares pousavam no meio da multidão. Bolsonaro chegou a Copacabana pouco depois das 15h, à frente de uma motociata de apoiadores, uma das marcas da campanha pela reeleição.

Depois de assistir ao ato cívico-militar preparado pelo Comando Militar do Leste (CML) em frente ao Forte de Copacabana, o presidente seguiu, com o governador do Rio, Cláudio Castro — também candidato à reeleição — por um corredor aberto entre a multidão até o trio elétrico de Malafaia — que contou, ainda, com a presença do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), cuja candidatura foi vetada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Aos apoiadores, Bolsonaro fez um discurso autoelogioso e econômico nas acusações. Mirou diretamente o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de votos, ao chamá-lo de “quadrilheiro de nove dedos” e de dizer que o lugar dele “é na prisão”. E rechaçou acusações de corrupção: “Não sou bem educado, falo palavrões, mas não sou corrupto”, afirmou, recebendo como resposta gritos de “mito, mito!”. Disse, ainda, que o governo está “há três anos e meio sem corrupção”.

Já o Supremo Tribunal Federal e o Congresso foram poupados de críticas mais ácidas. “Hoje, vocês sabem como funciona a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e o Supremo Tribunal Federal. O conhecimento garante a nossa liberdade. Hoje vocês sabem como é difícil defender esse bem maior, que é a nossa liberdade”, disse.

 

“Decolando”

Em vez de ataques, o presidente preferiu fazer um discurso repleto de elogios ao próprio governo, destacando a economia e a gestão da pandemia de covid-19. Sobre a ação do governo na crise sanitária, disse que o país “é referência mundial” graças à decisão de enfrentar o que chama de “política do fique em casa”. Sobre economia, bradou que “o Brasil está decolando” e que apresenta “números invejáveis”.

O presidente também fez elogios à política externa brasileira, que chamou de “inigualável”. Defendeu as pautas conservadoras e os empresários bolsonaristas investigados por pregar, em um grupo de WhatsApp, um golpe de Estado. Entre eles Luciano Hang, que estava com o presidente no evento do Rio.