Correio Braziliense, n. 21724, 08/09/2022. Política, p. 5

Gilmar: chance de golpe é nula

Vicente Nunes


Porto (Portugal) — O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou, ontem, que não há a menor possibilidade de a Corte se acovardar diante de qualquer tentativa de golpe no Brasil, caso um dos perdedores da corrida presidencial não aceite o resultado das urnas.

“Não cogito essa hipótese. Nós estamos num processo eleitoral absolutamente normal. A campanha, apesar de refregas, às vezes um pouco mais contundentes, está se fazendo dentro dos padrões normais. Estão reclamando ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é impugnação para lá, impugnação para cá. Retirada de conteúdos da internet”, disse.

A afirmação do ministro veio depois que Jair Bolsonaro (PL) disse, também ontem, que a história pode se repetir, remetendo ao golpe militar de 1964. Segundo ele, “a história sempre venceu o mal”.

Para Gilmar, não há possibilidade de se afrontar a Constituição, apesar da retórica belicista do presidente da República. No entender do ministro, a democracia tem grande apoio no Brasil.

“O que me parece é que há um estresse do momento eleitoral. Então, esse tipo de versão é apelativa. O que nós devemos é operar para que o sistema eleitoral brasileiro funcione, como tem funcionado. E quem ganhar as eleições terá o mandato confirmado, assim como quer o povo”, frisou Gilmar, que participa de seminário sobre os 200 anos da Independência do Brasil, promovido pelo Fórum de Integração Brasil Europa (Fibe) na cidade de Porto, em Portugal.

O ministro ressaltou que viu as transcrições das falas de Bolsonaro, mas não teve como fazer uma avaliação mais profunda. Conforme disse, o ideal seria que, neste momento, em vez de se criar atritos, todos aproveitassem para celebrar o Sete de Setembro, pois o de 2022 é uma data especial.

“São 200 anos da Independência do Brasil. Aqui em Portugal, todos estão comemorando, um fato singular. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, está no Brasil para acompanhar a celebração. Ainda hoje (ontem) recebi um convite para uma solenidade festiva no sábado, na casa do primeiro-ministro português, António Costa”, assinalou.

Constituição

No entender do ministro, não se chegou até aqui, desde a Constituição de 1988, por acaso. “Já são mais de 30 anos de normalidade institucional, democrática, que nós também devemos celebrar. Tivemos, durante todo esse período, eleições livres, com alternância de poder de diferentes forças políticas, que chegaram ao poder, inclusive o presidente Jair Bolsonaro. Então, vamos prosseguir nessa trajetória”, enfatizou.

Mendes destacou que quando ameaçam com golpes, a impressão que se tem é de mensagem populista. O ministro acrescentou que não vê ninguém que queira comprometer a democracia. “Nós estamos tendo eleições vívidas, limpas, em todos os estados. Quem faz as eleições não está apostando, obviamente, em golpe ou comprometimento da democracia”, afirmou.