Título: Números viram arma eleitoral
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2005, País, p. A2

Convicto da polarização com o PSDB em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende apoiar-se nos números positivos de sua administração para impulsionar o projeto de reeleição. O governo divulga resultados favoráveis na economia, na área social e no combate ao crime organizado. Na sexta-feira, Lula criticou os deputados petistas por não defenderem ''as realizações'' do governo, que, segundo ele, são ''maiores do que os oito anos do governo Fernando Henrique''. O presidente, no entanto, acumula resultados negativos que deverão ser amplamente explorados pela oposição durante a campanha do ano que vem, exemplo da lentidão da reforma agrária e da queda nos investimentos, que se somam ao escândalo do mensalão, responsável por desbotar a bandeira petista da ética. A pergunta que emerge dentro e fora do governo é se os números positivos vão redimir Lula. O cientista político David Fleischer acha que Lula tem hoje 40% de chance de reeleger-se.

- A economia vai entrar fortemente nos eixos. Lula vai bancar isso para sua reeleição. É possível Lula se redimir, mas não sei se é muito provável - afirma Fleischer.

Muitos resultados divulgados pela administração Lula chamam a atenção. O saldo da balança comercial - evolução das importações e exportações - cresceu 270,8% nos dois primeiros anos do governo Lula, em relação aos últimos dois anos de Fernando Henrique. Este ano, espera-se novo recorde, acima de US$ 40 bilhões. Lula foi muito criticado por viajar demais, mas os resultados das vendas no exterior são expressivos.

A geração de empregos formais apresenta saldo positivo. O emprego formal, com carteira assinada, garante ao trabalhador direitos como férias, 13º, aposentadoria, FGTS e benefícios como vale-transporte. A administração Lula - de janeiro de 2003 a agosto deste ano - conquistou um saldo de 3,4 milhões de empregos formais, 161% a mais que Fernando Henrique, no mesmo período do segundo mandato. Lula, no entanto, terá que suar a camisa para criar os 10 milhões de empregos prometidos. Mantida a média atual, chegaria em 5 milhões no fim do mandato.

Os programas de transferência de renda para as camadas mais pobres fechou o ano passado com aumento de 148% em relação ao último ano do governo anterior. O trabalho da Polícia Federal no combate ao crime organizado colocou atrás das grades 1,6 mil marginais. Rico agora vai preso.

Distribuiu R$ 6,1 bilhões na última safra em empréstimos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), crescimento de 165% em relação ao último ano de FH. O número de famílias beneficiadas é quase o dobro. A pequena agricultura é responsável pela maioria dos empregos no campo.

No meio político, as opiniões de governistas e oposição sobre os pontos positivos da administração Lula são divergentes. Para a senadora Ideli Salvati (PT-SC), os resultados positivos já estão ajudando o presidente a passar pela crise política.

- Que outro governo que teria resistido a um bombardeio desses, se a população não tivesse visto resultados? - pergunta Ideli.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) vê a adoção do modelo econômico do PSDB como o único lado positivo do governo Lula. Modelo sobre o qual o PSDB já pregava mudanças, afirma Dias. Entre 1 a 10, o senador dá nota 4 para Lula. Para os que acham a nota baixa, Álvaro diz que o segundo mandato do correligionário FH merece só nota 6.

Para alimentar a campanha da oposição, Lula vem deixando um rastro de resultados negativos em setores importantes. O presidente ganha nota baixa em questões estratégicas para o crescimento econômico, incluindo a infra-estrutura. As estradas estão ruins e péssimas, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte. Os investimentos do governo nos últimos dois anos de FH atingiram R$ 22,6 bilhões. Nos dois primeiros anos de Lula, caíram para R$ 14,2 bilhões. Este ano, os investimentos se arrastam em R$ 4,9 bilhões.

Contrariando as expectativas, as escolas privadas de ensino básico ganharam 408 mil alunos este ano e as de ensino público perderam 703 mil estudantes. Na área econômica, o governo Lula não conseguiu domar a taxa de juros, que encarece o crédito para o consumidor, a indústria e comércio e dificulta a redução da dívida pública.

O foco da administração Lula na área econômica afasta do governo, os petistas históricos e movimentos sociais contrários à política que chamam de neoliberal.

- Eu dou nota 7 para o governo Lula. Esta rigidez na questão dos juros, do superávit, impediu que nós pudéssemos deslanchar mais os programas sociais - avalia a senadora Ideli Salvati.