Título: Crise política complica quadro no Senado
Autor: Paulo Celso Pereira e Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2005, País, p. A4
A crise política que há quatro meses atinge o país mudou não só a reputação e o futuro político de muitos parlamentares, mas também o calendário dos acordos eleitorais. A menos de um ano para o pleito de 2006, as candidaturas a cargos majoritários ainda estão indefinidas até mesmo nos estados.
Se os pré-candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais estão em compasso de espera, a escolha de nomes para o Senado, tradicional moeda de trocas na hora de estabelecer as coligações, está embolada. Pesquisas de opinião realizadas pelos partidos mostram claramente a indefinição.
No Rio, o favorito PMDB - que conta com a máquina do governo do Estado - faz contas e arranjos políticos para definir quem será seu representante ao Senado. O presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani, é o nome colocado oficialmente, mas aliados próximos reconhecem a dificuldade de ele conseguir a legenda. A decisão passa pela possível candidatura do ex-governador Anthony Garotinho à Presidência da República.
Segundo as avaliação de peemedebistas, as chances de Garotinho conquistar a vaga para disputar o Planalto está reduzida, sobretudo depois do fortalecimento da ala governista do partido, representada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos articuladores da vitória de Aldo Rebelo (PCdoB) na Câmara.
Caso seja realmente derrotado, Garotinho seria candidato a deputado federal e cairia no colo de sua mulher, a governadora Rosinha, a legenda para o Senado. Não bastasse as dúvidas do casal, Picciani ainda tem de enfrentar a alta popularidade do vice-governador Luiz Paulo Conde.
Nas pesquisas em poder de partidos, os números mostram que Conde lidera a disputa ao Senado com 15% das intenções de voto. Nas mesmas sondagens, o presidente da Alerj não passa de 1% dos votos. A avaliação dos peemedebistas, no entanto, é que dificilmente o vice-governador sai candidato. A expectativa de Conde seria que Rosinha se desincompatibilizasse para tentar a vaga do Senado e ele pudesse assumir o governo do Estado durante os últimos nove meses do ano que vem.
Se a máquina do governo do Estado ainda não tem dono certo, a do Governo Federal já está praticamente endereçada. A ex-governadora Benedita da Silva é tida hoje como a candidata natural do partido ao Senado. Apesar de o senador Saturnino Braga - que permaneceu no PT - também ter intenção de se candidatar, ele dificilmente conseguirá a legenda. Numa das pesquisas de intenção de votos, Benedita aparece em segundo lugar com 11%, atrás apenas de Conde.
O mais surpreendente da disputa é, no entanto, o ex-prefeito de Niterói Jorge Roberto Silveira. Segundo a pesquisa, o pedetista tem hoje 10% das intenções de voto, atrás apenas de Conde e Benedita.
No PSDB, que deve ser o principal adversário do PT no ano que vem, o único nome apresentado até o momento foi o do secretário municipal de Saúde do Rio, Ronaldo Cezar Coelho. Com cerca de 5% das intenções de votos, Ronaldo pode ser auxiliado pela reedição da aliança PSDB-PFL nos planos nacional e estadual.
Ao lado dele aparece na pesquisa o deputado Francisco Dornelles (PP), também com 5% das intenções. Deputado federal por cinco mandatos e ministro três vezes (da Fazenda, no governo Sarney; e das pastas Indústria e comércio, e Trabalho do governo Fernando Henrique Cardoso), Dornelles é o candidato natural do PP ao Senado.