Título: Maranhão: governador despeja vice
Autor: Rodrigo Camarão
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2005, País, p. A5

Uma briga política que opõe o governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares (PSB), e o vice, Jurandir Ferro do Lago Filho (PMDB), culminou semana passada, quando Jura Filho, como é conhecido, foi despejado de seu gabinete no Palácio Henrique de La Roque, na capital São Luís. O vice teve que deixar o escritório de 100 metros quadrados para despachar de uma sala que não passa de 12 m² na residência oficial, a 10 quilômetros do Palácio. Na véspera, Jura Filho se atracara com o chefe da Casa Militar, coronel Pinheiro Filho, ao tentar entrar na sede do governo com a imprensa e ser barrado pelo oficial. Ambos foram parar no Instituto Médico Legal, fizeram exame de corpo de delito e disseram que a culpa era do outro.

O motivo da expulsão do vice-governador está num aumento de R$ 20 do salário mínimo dos cerca de 100 mil servidores maranhenses. Jura Filho aproveitou que o titular havia viajado para a França por uma semana, na primeira quinzena do mês passado, para assumir o governo e enviar mensagem à Assembléia Legislativa, aumentando o salário de R$ 280 para R$ 300. Hoje, os funcionários ganham, além do vencimento, bônus de R$ 20 que não incidem, no entanto, sobre benefícios como férias.

Jura argumenta que este ano, o impacto do aumento seria de R$ 7 milhões e, no próximo ano, R$ 27 milhões, para uma arrecadação de R$ 300 milhões. O governo vem sustentando que não pode arcar com o aumento da despesa e que tem apoio do Supremo Tribunal Federal, já que a soma do salário mínimo atinge os R$ 300 do piso nacional.

A mensagem enviada à Assembléia criou constrangimento, já que a maioria da Casa é aliada ao governador. Os deputados preferiram esperar José Reinaldo voltar do evento do ano do Brasil na França. Ao pisar no Maranhão, o chefe do governo declarou guerra ao vice.

- Isso foi uma molecagem - disse ao Jornal do Brasil o neo-socialista, recém filiado ao PSB, vindo do PTB e, antes, do PFL.

- Eu só cumpri a Constituição e o piso nacional do salário mínimo - rebateu Jura.

O contra-ataque veio rápido. José Reinaldo extinguiu os 15 cargos subordinados a Jura Filho, exonerou os policiais militares que faziam a segurança do vice-prefeito, reduziu o efetivo e indicou outros, à revelia.

Jura Filho procurou reverter a situação politicamente. Alegou que sua vida estava ameaçada sem a segurança e recorreu a seu padrinho político, o senador José Sarney (PMDB). Ao lado de Sarney outros três senadores e seis deputados federais, bateu às portas do Ministério da Justiça para solicitar ao ministro Márcio Thomaz Bastos, proteção da Polícia Federal.

A ação durou pouco, entretanto. O governador recuou e concordou em deixar que Jura indicasse, entre os quadros da PM, os 13 policiais fariam sua segurança pessoal.

O governador José Reinaldo então determinou que o vice fosse avisado por ofício do despejo e deixasse o Palácio.

- O chefe da Casa Civil me mandou um ofício dia 30 dizendo que meu gabinete passaria por uma redistribuição de espaço e seria removido para a residência oficial, no bairro Turu. É uma retaliação - acusa Jura.

O governador justificou sua decisão, tomada um dia antes de Jura ter discutido com policiais militares na porta do palácio e diante da imprensa.

- Foi uma presepada. Vi que era uma armação. Destituí os empregados, tirei o escritório dele para que não crie mais problemas. Se continuasse lá, isso iria se repetir. A vice-governadoria é benevolência do governo. Ele não pode tomar decisão nenhuma. É um rapaz novo, imaturo - atacou.

Para José Reinaldo, Jura Filho está sendo usado politicamente pelo senador Sarney, seu desafeto político. O vice admite, inclusive, se beneficiar politicamente com o briga palaciana, se candidatar a deputado federal ou ser vice novamente, desta vez na chapa da senadora Roseana Sarney, ano que vem. Resta saber qual a briga que os maranhenses vão comprar.