Título: Wagner limita crise ao caixa 2
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Fonte: Jornal do Brasil, 06/10/2005, País, p. A2

Ministro diz que problema é de todo o país

BRASÍLIA - Provocado pelo ex-assessor especial da Presidência Oded Grajew, que durante debate no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social culpou os três Poderes pela atual crise, o ministro das Relações Institucionais Jaques Wagner, comparou o financiamento irregular de campanhas eleitorais com o jogo do bicho e o dólar paralelo, o que, segundo ele, são tratados com normalidade pela sociedade brasileira.

Em uma reunião com integrantes do Conselho, ontem no Planalto, o ministro arriscou um palpite sobre o resultados das investigações das CPIs. Segundo ele, a crise política foi provocada por um ''problema tipicamente de financiamento irregular de campanha''.

- É um problema tipicamente de financiamento irregular de campanha, que é tratado no Brasil, como o jogo do bicho, o caixa dois, o dólar no paralelo - afirmou o ministro.

O ministro, ainda em resposta a Grajew, tentou justificar a atitude petista de recorrer ao uso do caixa dois para o financiamento de campanhas, como em 2002 e 2004:

- A gente vai se habituando a conviver com algumas coisas e a máquina é tão poderosa que ela captura até aqueles que não foram criados para isso. Estou falando do meu partido como autocrítica pública, apesar de estar circunstanciado a dois, três, cinco ou dez integrantes do partido.

A reunião de ontem teve como um dos temas a segurança pública. Após a apresentação de Wagner e do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a palavra foi aberta aos conselheiros. Um dos que falaram foi Grajew, presidente do Instituto Ethos e assessor de Lula em 2003.

Grajew foi o único a pontuar críticas ao governo. Ele sugeriu que o Conselho reunisse representantes de Tribunal de Contas da União, Tribunal Superior Eleitoral e a Controladoria Geral da União. O conselheiro questionou a ausência de instituições que apontassem as irregularidades no governo.

- Se fosse algum governante, não conseguiria dormir tranqüilo à noite com a vulnerabilidade do Estado. Nada funcionou, nenhum alarme tocou, o cachorro não latiu. Tomamos conhecimento depois dos fatos. Que se faça proposta para a reforma dessas instituições para que a sociedade tenha confiança na solidez e na confiabilidade delas e para que as campanhas sejam limpas, para que não haja caixa dois, superfaturamento nem movimentações financeiras ilegais - defendeu.

Já Thomaz Bastos evitou polemizar com Grajew, citando as ações do governo para o combate à corrupção. Antes, em sua apresentação, o ministro provocou risos entre os presentes ao fazer um crítica velada, dizendo que o governo petista vezes sofre com a ''síndrome do marco zero''.

- Mas não vou entrar de maneira brincalhona na síndrome do marco zero, de achar que tudo começou nesse governo - afirmou, ao citar operações da Polícia Federal.