Título: Tráfico de influência na Caixa
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 06/10/2005, País, p. A7

Em acareação marcada por bate-boca, parlamentares se convencem que Gtech fez lobby para renovação de contratos

BRASÍLIA - Depois de muito bate-boca e troca de acusações em acareação na CPI dos Bingos ontem, os parlamentares saíram convictos de que a multinacional Gtech montou esquema de tráfico de influência. A estratégia seria abordar autoridades brasileiras antes de renovar o contrato de R$ 650 milhões com a Caixa, em 2003. O ex-advogado da multinacional, Enrico Gianelli, apresentou à CPI mapa feito pela Gtech em que o ex-subchefe para assuntos parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, aparece como um dos principais alvos da empresa no início do governo Lula. A CPI colocou ontem frente a frente Waldomiro, o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o advogado Gianelli, o diretor da Gtech, Marcelo Rovai, e o advogado Rogério Buratti ¿ ex-assessor do ex-prefeito de Ribeirão Preto (SP) e atual ministro da Fazenda, Antônio Pallocci.

Rovai acusou Buratti de tentativa de achaque, por supostamente tentar receber propina para a renovação do contrato com a Caixa. Mas o advogado Gianelli, além de apresentar o mapa da influência, confirmou que a Gtech procurou Buratti.

¿ Procurei o Buratti, a pedido do Rovai ¿ afirmou Gianelli, desmentindo o diretor da Gtech.

O mapa da influência tem várias cores, entre elas o azul, que sinaliza as pessoas com maior poder dentro do governo do PT. Além do presidente Lula, aparecem na cor azul o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ministro Palocci, o então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA) e o próprio Waldomiro. Outras personalidades do governo também eram alvo do lobby da Gtech, entre elas o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan.

¿ Eles se aproximaram do governo. Este é o mapa da influência ¿ concluiu o senador Romeu Tuma (PFL-SP).

Gianelli deu mais detalhes da abordagem da Gtech no Brasil. Segundo o advogado, a empresa manteve no país ex-agentes da polícia federal americana (FBI) para investigar pessoas e empresas. Nem o próprio Rovai acredita na lisura das ações da Gtech no Brasil. Perguntado se os R$ 6 milhões que a empresa teria pago a um escritório de advocacia, Rovai foi incisivo:

¿ Hoje, tenho dúvidas. Acho que a CPI tem que olhar isso ¿ afirmou. A CPI teve troca de acusações entre os convidados e entre senadores. Filmado pedindo propina ao bicheiro Cachoeira, Waldomiro foi um dos que menos falaram durante a acareação. O ex-subchefe da Casa Civil inocentou o ex-ministro José Dirceu. Quando perguntado se tinha avisado Dirceu sobre reunião com a Gtech e Carlinhos Cachoeira, Waldomiro negou.

¿ Cometi um erro. Traí a confiança do meu chefe ¿ afirmou Waldomiro. Na terça-feira, Waldomiro, Rovai, Gianelli, Cachoeira e Buratti já haviam prestaram depoimento conjunto na Polícia Federal, em Brasília.