Título: Um espião dentro da Casa Branca
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/10/2005, Internacional, p. A8
Pela primeira vez na história moderna, funcionário é acusado de enviar documentos secretos para a oposição nas Filipinas
WASHINGTON - Foi descoberto pela polícia federal americana (FBI) e pela CIA o primeiro caso de espionagem na história moderna do poder em Washington. Autoridades revelaram ontem que um espião, nunca antes detectado, trabalhou dentro da Casa Branca por quase três anos. Leandro Aragoncillo, de 46 anos, foi fuzileiro e recentemente contratado como assessor do vice-presidente Dick Cheney. Investigadores federais afirmam que o americano, naturalizado filipino, usou o cargo para roubar documentos secretos da Inteligência de computadores oficiais. ¿ Não conheço um caso anterior de investigação que tenha levado a um desfecho similar ¿ afirmou Richard Clarke, ex-conselheiro da presidência.
Em 2000, Aragoncillo trabalhava na equipe do vice-presidente de Bill Clinton, Al Gore. Em certa ocasião, foi entrevistado por uma TV de Manila sobre o trabalho de filipinos nos bastidores do poder em Washington:
¿ O que as autoridades americanas mais apreciam é a nossa integridade e lealdade.
O material secreto, que Aragoncillo roubou do escritório de Gore, incluía dossiês sobre o então presidente das Filipinas, Joseph Estrada. Então, repassou os documentos para políticos de oposição e até gente do governo de Manila. Todos planejavam o golpe de Estado.
¿ Mesmo que não tenha sido feito por russos ou outro governo, o fato de ter acontecido dentro da Casa Branca é motivo para grande preocupação ¿ alertou John Martin, que foi procurador-chefe em casos de espionagem ao governo durante 26 anos.
No mês passado, Aragoncillo foi preso enquanto trabalhava em um escritório da CIA, em Fort Monmouth (Nova Jersey). De acordo com a queixa criminal lançada pelo FBI, que o investigava desde julho, o americano-filipino baixou pelo menos 101 documentos secretos dos computadores da Inteligência e da polícia. Alguns, ele sequer tinha permissão para ver. A informação foi transferida principalmente por e-mails.
O espião usava suas contas gratuitas de webmail para enviar os documentos, que variavam entre as três classificações oficiais: ¿altamente secreto¿, ¿secreto¿ e ¿confidencial¿.
Desde a prisão, Aragoncillo concordou em cooperar. Ele admitiu que espionava também enquanto trabalhava no escritório de Cheney.
Aragoncillo começou a trabalhar na Casa Branca em 1999. Os investigadores querem agora saber como conseguiu o emprego e como agiu por tanto tempo sem ser detectado.
¿ É óbvio que ele é uma fonte de vergonha, porque fez toda essa atividade literalmente embaixo do nosso nariz ¿ reconheceu Martin.
Segundo amigos do acusado, além de ter trabalhado com Cheney e Gore, Aragoncillo conta ter contribuído também com Clinton e Condoleezza Rice, quando era conselheira de segurança nacional de George Bush.
Outro filipino, com cidadania americana, Michael Ray Aquino, de 39 anos, também está envolvido no caso. Ele foi preso em casa, no Queens, em Nova York, com o agravante de que está com o visto vencido desde março. Aquino era vice-diretor do Grupo de Inteligência e Política das Filipinas e superintendente sênior da agora desmantelada Força-Tarefa Presidencial das Filipinas contra o Crime Organizado.
Ambos estão respondendo à acusação de conspiração, punível com máximo de cinco anos de prisão e multa de US$ 250 mil. Aragoncillo é acusado, ainda, de agir como agente sem registro sob a direção de uma autoridade estrangeira ¿ o equivalente à espionagem. Para este crime, a pena máxima de detenção é de 10 anos, com multa de US$ 250 mil. Outra acusação é a de uso não-autorizado de computador governamental para a obtenção e a transmissão de informação secreta a pessoas que não deveriam recebê-la. A pena é de 10 anos de prisão e outra multa de US$ 250 mil.
Também ontem, o analista do Departamento de Defesa, Lawrence Franklin, reconheceu que por dois anos repassou à embaixada de Israel informação confidencial, sobre potenciais ataques dos EUA ao Iraque.