Título: Pterossauros competiam com aves
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 06/10/2005, Internacional, p. A9

Duas novas espécies encontradas viviam há 120 milhões de anos

Descobertas duas novas es pécies de pterosossauros - o contemporâneo alado dos dinossauros. Feilongus youngi e Nurhachius ignaciobritoi - como foram chamados, em homenagem ao pesquisador chinês C.C. Young e ao paleontólogo brasileiro Ignácio Brito - sobrevoavam a região de Liaoning, Nordeste da China, há 120 milhões de anos, período Cretáceo Inferior.

A escavação nas formações de Yixiang e Jiufotang, uma cooperação entre pesquisadores brasileiros e chineses, possibilitou a elaboração de uma nova teoria sobre a competição entre aves e pterossauros. O que, segundo os especialistas, permite uma melhor compreensão sobre a parte evolutiva dos animais voadores.

Os fósseis de pterossauros foram retirados de um sítio distante do litoral - fato raro. A maioria desses répteis voadores encontrados até hoje estava em locais perto de ambientes marinhos.

- Os quatro principais sítios de pterossauros, que somam metade da diversidade, e 90% dos exemplares mundiais, estão em regiões costeiras - observa Kellner.

Nesses lugares, reinavam em ampla maioria convivendo com poucas aves. Em Liaoning, o que se viu foi uma situação completamente diferente.

- Observou-se o predomínio das aves sobre os pterossauros - afirma o pesquisador.

Diante de dois mil exemplares de 26 espécies de aves, havia 140 exemplares de 16 espécies de dinossauros, incluídas as duas novas e três outras ainda não descritas.

- A descoberta é uma janela para o passado. Permite ter uma idéia de como as aves viviam naquele tempo, confinadas ao interior do continente em regiões de vegetação mais densa - comenta Kellner.

Os estudos ainda não foram concluídos, mas esse predomínio dos pássaros pode ser explicado pela sua facilidade de locomoção nas florestas em relação aos répteis voadores.

- As aves têm asas com penas e uma estrutura mais robusta do que a grande e frágil membrana alar dos pterossauros. Em princípio, para estes, em uma área mais aberta, como o litoral, seria mais fácil se deslocar, o que conseqüentemente seria mais propício às atividades do dia-a-dia - explica o paleontólogo.

Uma próxima etapa da pesquisa poderá indicar se havia concorrência direta entre diferentes espécies e quais alimentos disputavam com as aves e entre si. Sabe-se que os dois novos pterossauros tinham uma alimentação a base de insetos e peixes, e mediam 2,5 m de envergadura.

A parte encontrada do Feilongus youngi foi o crânio, já do Naurhachius ignaciobritoi foi o corpo. Este último é uma forma muito rara de um grupo, que só havia sido encontrado em depósitos na Inglaterra.

Publicado hoje na revista científica Nature, o trabalho foi realizado graças a um intercâmbio entre as Academias de Brasil e China. A equipe é composta pelos paleontólogos Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ; Diógenes Campos, do Departamento Nacional de Produção Mineral e por Xiaoling Wang e Zhonhe Zhou do Institute of Vertebrate Paleontology and Paleoanthropology.

As réplicas dos animais pré-históricos descobertos e um vídeo sobre o projeto vão estar disponíveis ao público a partir desta sexta-feira, no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro.