Título: Degradação humana
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/10/2005, Opiniao, p. A10

As manchas abjetas que desonram a alma nacional reafirmaram esta semana sua incômoda força, com a revelação de uma quadrilha que aliciava adolescentes no Rio de Janeiro para prostituição no exterior. O esquema, desbaratado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, funcionava em Copacabana como uma espécie de escola de prostituição infantil. Atraídas na rua e pela internet, meninas eram treinadas e, depois, enviadas para os Estados Unidos e países da Europa e América Latina. Trata-se de um entre tantos exemplos assombrosos que se espalham pelo Brasil. No início do ano, um levantamento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República já mostrara que quase mil municípios brasileiros sediam redes de agenciadores de crianças e adolescentes. A CPI do Congresso que investigou o tema também apontou o envolvimento de juízes, parlamentares e até religiosos entre os criminosos. Apesar das provas recolhidas, a impunidade campeia de Norte a Sul, Leste e Oeste.

As evidências amontoam-se tanto nos rincões quanto em grandes cidades como Rio, São Paulo e Recife. Integram uma chaga da qual fazem parte criminosos como a do paulista preso esta semana e turistas que chegam em vôos abarrotados de sujeitos desprezíveis - que vêm aproveitar a liberdade com que se pratica a prostituição juvenil (às vezes infantil) nas praias brasileiras. O governo amplia os aeroportos, distribui folhetos condenando a prática, indica telefones para denúncia. Mas basta passear pela orla para se observar o avanço perverso desta exploração.

Esse problema transformou-se há tempos num câncer arraigado na vida real. O Brasil é líder na matéria entre os países latino-americanos. Ao aceitar a extensão da exploração de crianças a adolescentes, torna apavorante o futuro de uma geração inteira de meninas - e degrada a sociedade. Não há nada que justifique as atrocidades contra pequenos cidadãos que amanhã serão adultos destruídos. Há urgência no confronto entre a lei e o crime, cujas raízes precisam ser extirpadas com investigação e punição mais do que implacáveis.