Título: Cresce o risco de pouso forçado
Autor: Rafael Rosas e Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 06/10/2005, Economia, p. A17

Vice-presidente da Varig expõe em carta manutenção insuficiente e alerta para risco de colapso por falta de recursos

Uma carta oficial de cinco páginas, assinada pelo vice-presidente operacional e técnico da Varig, comandante Miguel Dau, e endereçada ao presidente do Conselho de Administração da companhia aérea, David Zylbersztajn, aumentou a turbulência em torno da diretoria da empresa. No documento, Dau aponta riscos devido à falta de recursos para a manutenção das aeronaves e sugere que, até o fim do ano, 31 aparelhos podem ficar sem mínimas condições técnicas para sair do chão. De acordo com o vice-presidente, até 29 de setembro, 15 dos 64 aviões da empresa estavam parados por falta de manutenção. Para reativar os aparelhos, seriam necessários pelo menos US$ 70 milhões, mas a reintegração à frota demoraria no mínimo seis meses.

¿Além disso, a ausência de recursos mensais para a manutenção da frota, como indicado acima, implica, também, no comprometimento dos padrões ideais para operação das aeronaves¿, diz o executivo na carta.

A redução dos recursos destinados à manutenção fica explicitada no documento. Em 2004, na média, as aeronaves receberam 62% do mínimo necessário para despesas com reparos de peças e equipamentos (exceto motores). Este ano, a situação se agravou de forma dramática. Até 26 de setembro, apenas 40% das necessidades foram supridas.

A situação se tornou mais grave a partir de junho, mês em que o atual Conselho de Administração da companhia, apresentou o pedido de recuperação judicial. Naquele mês, apenas 19% dos recursos necessários foram desembolsados. Em setembro, época em que foi entregue o plano de recuperação à Justiça, nova escassez de recursos: só 10% do mínimo necessário.

Mas o quadro ainda pode se agravar. Dau frisa que até o fim do ano mais 16 motores podem ser retirados de circulação, o que pode elevar o número de aeronaves no chão para 31.

Para piorar, o administrador judicial da Varig, João Raymundo Cysneiros Vianna, afirma não ter recebido a carta, mesmo depois de ter enviado correspondência ao próprio Miguel Dau requisitando o documento. Segundo Cysneiros, a falta de comunicação fere um dispositivo da lei que obriga os dirigentes da Varig a prestar informações ao administrador judicial, o que já o levou, inclusive, a pedir o afastamento dos diretores da companhia, em setembro.

¿ Não conheço a carta. Essa é mais uma demonstração de que faltam elementos para que possamos acompanhar o desenvolvimento da recuperação judicial ¿ afirmou Cysneiros.

À noite, o Conselho de Administração da Varig divulgou nota oficial, em que alega estar atento às preocupações levantadas por Dau e mantém o compromisso com a segurança e a regularidade dos vôos. Além disso, reafirma a confiança no processo de recuperação e a continuação da busca por um investidor. Procurado, Zylbersztajn não pôde falar porque estava reunido com integrantes do Departamento de Aviação Civil. Um participante disse que a reunião foi para discutir o plano de recuperação