Título: Invasões e invasores
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/10/2005, Opiniao, p. D2

Felizmente - e ao contrário de outros muitos casos - houve resposta imediata do Poder Público à tentativa de invasão na área de proteção ambiental do Córrego do Monjolo, próximo ao Paranoá. Os ocupantes haviam trabalhado com rapidez. Quando se deu a intervenção policial, na segunda-feira, a área de 8 mil hectares já estava demarcada e dividida em aproximadamente 500 lotes, em tese com seus proprietários definidos. É evidente que uma iniciativa como essa não ocorre por acaso, não surge do nada. Os invasores haviam sido aliciados e organizados. Usavam técnicas já testadas em dezenas de ofensivas semelhantes, como atacar repentinamente, colocar mulheres e crianças nas linhas de frente, garantir a presença de idosos, ficar nos lotes nas horas mais suscetíveis às retiradas, afinar os discursos para a mídia. Em outras palavras, havia grileiros bem estruturados municiando a invasão.

A aventura constitui um absurdo total. Não é à toa que a área está sob proteção ambiental: nela há nascentes imprescindíveis para a preservação do abastecimento de água para toda a região. Além do mais, seria uma temeridade permitir que se constituísse, com o Paranoá e Itapuã, imenso aglomerado urbano, que passaria dos 200 mil habitantes e tenderia a crescer de forma alucinada. A propósito, o Itapuã está bem ao lado, como um exemplo de tudo o que não deve ser feito em termo de urbanização.

O problema está em que novas ofensivas virão. Embora plenamente conscientes de que não têm direito algum a ocupar a área em questão, os grileiros e os invasores garantem que voltarão ao ataque. Levando em conta que nada têm a perder, é provável que cumpram a ameaça. Caso isso ocorra, haverá mais um explosivo núcleo de miséria bem próximo ao centro de Brasília, caracterizando-a uma vez mais como um apetitoso alvo para aproveitadores de todos os pontos do País. O Poder Público, que agiu acertadamente desta vez, não pode vacilar por um minuto sequer.