Título: Entrevista: Raul Pont
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2005, País, p. A7
- Como pretende conduzir o PT as eleições em 2006? - A primeira coisa é fazer um congresso para que voltemos a ter uma sintonia maior entre partido e governo. Isso é importante para que possamos enfrentar o desafio das eleições não só no governo federal, mas nos 27 Estados nos quais teremos de disputar e orientar nosso partido na dentro da disputa.
- A idéia é ter candidato próprio em todos os Estados?
- Entendo que essa deve ser a preocupação primeira. É evidente que dependendo da correlação de forças com outros aliados do campo da esquerda, isso pode ser discutido à luz de cada realidade específica. Mas acho que em todos os lugares que pudermos e tivermos representação para ter candidatura própria sou favorável. Mas reconhecemos que há Estados em que outras forças de esquerda também são fortes e podem assumir essa representação.
- Quais são os principais problemas a resolver no partido?
- O problema que temos de resolver de imediato é terminar esse processo que está sendo vivido de avaliação, averiguação e punição de responsáveis pela crise de moralidade pública e de ética partidária que vivemos. Depois disso, o nosso maior desafio é programático. Precisamos ter uma sintonia que nos permita entrar nas eleições do ano que vem com uma unidade muito sólida do partido com o governo e hoje não temos isso. Basta olhar para o resultado das eleições internas.
- No que se percebe essa falta de sintonia?
- Nas eleições internas, 170 mil, dos 314 mil votantes, escolheram candidatos que tinham críticas à política econômica do governo Lula. Portanto, podemos dizer que o partido se posicionou a respeito. Essa opção da maioria deveria despertar no governo uma relação mais intensa e mais articulada com o partido. Fazer essa aproximação é a nossa maior tarefa nesse momento de organização do novo Diretório Nacional e da nova direção partidária.
- Como analisa a candidatura de Ricardo Berzoini, um ex-ministro de Lula e representante do Campo Majoritário, que foi envolvido nas denúncias de corrupção?
- O Campo Majoritário não é pequeno, é forte e era maioria até pouco tempo. É um grupo que tem enraizamento em todo o país. Certamente essas pessoas que votaram no Berzoini acham que as coisas que foram feitas no partido estão certas. No entanto, ele diz que não é originário do Campo Majoritário, apesar de ter assumido a candidatura à presidência. Agora, se o Campo o escolheu como candidato foi por afinidades e confiança mútua.
- Nem ele quer assumir a relação com os envolvidos em denúncias?
- É. Por isso, o conjunto do partido deve fazer um balanço.