Valor Econômico, v. 20, n. 4897, 10/12/2019. Empresas, p. B4
 

Corrupção na Petrobras pode ter superado R$ 6,2 bi
Rodrigo Polito 

 

O prejuízo de R$ 6,2 bilhões relativo a desvios de conduta e atos de corrupção revelados pela força-tarefa da Operação Lava-Jato e contabilizado pela Petrobras nas demonstrações financeiras de 2014 pode ter sido subdimensionado, de acordo com o presidente da estatal, Roberto Castello Branco.

“De acordo com o balanço divulgado pela Petrobras em abril de 2015 [relativo a 2014], foi feita uma estimativa de perdas de R$ 6 bilhões. Creio que essa estimativa, por melhor que tenham sido os critérios que orientaram a sua elaboração, não corresponde à realidade”, afirmou o executivo durante evento promovido pela companhia sobre melhores prática de gestão, realizado ontem no Rio.

“Existem subestimações nas próprias perdas financeiras. E, por outro lado, elas não consideram atos de gestão equivocados que são cometidos com propósito único de ampliar o universo para a corrupção”, completou.

O presidente da petroleira lembrou que, até o momento, a companhia já recuperou cerca de R$ 4,2 bilhões em recursos devolvidos por infratores, por meio da Lava-Jato. Desse total, R$ 750 milhões foram recuperados somente neste ano, segundo o diretor de governança e conformidade da Petrobras, Marcelo Zenkner.

Assim como seus recentes antecessores, Castello Branco reafirmou que a Petrobras foi vítima de um grupo que se utilizou da companhia para desviar recursos. “Durante aproximadamente 15 anos, [a Petrobras] foi vítima de uma organização criminosa que a saqueou”, afirmou.

Como exemplo de atos irregulares, Castello Branco citou os US$ 15 bilhões destinados ao projeto do complexo petroquímico do Comperj, em Itaboraí, região metropolitana do Rio, e que, até hoje, não saiu do papel. “Quinze bilhões de dólares jogados fora no Comperj, é um verdadeiro cemitério da corrupção”, frisou. Procurada, a Petrobras informou que não detalha o investimento no Comperj.

O executivo também fez referência às obras do escritório da empresa na Bahia, o “Torre Pituba”, onde se gastou “extraordinariamente mais de R$ 2 bilhões para a construção de um templo da corrupção superdimensionado”.

Sobre a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, Castello Branco disse que é “a refinaria mais cara do mundo” e destacou que foram gastos US$ 20 bilhões na refinaria, “com menor capacidade que o esperado”. Ele acrescentou que o investimento feito na unidade jamais será recuperado. “Por maior que seja o preço do petróleo.”

Sobre a atuação na área de conformidade, Zenkner disse que, neste ano, foram aplicados R$ 6,4 milhões em multas a fornecedores, no âmbito da Lei Anticorrupção. Segundo ele, em 2019, foram instaurados onze processos do tipo, dos quais seis foram concluídos.

De acordo com o diretor, as sanções não são relativas necessariamente a atos de corrupção. “A Lei Anticorrupção traz uma série de atos lesivos. Por exemplo, uma empresa é contratada pela Petrobras e, no momento em que ela vai apresentar documentação para receber uma medição de um contrato, ela apresenta um documento falso. A Petrobras, detectando isso nos seus controles internos, vai abrir um processo contra essa empresa e vai aplicar a ela alguma sanção”, explicou.

Castello Branco ainda pediu desculpas aos cerca de 2 mil funcionários da empresa que participaram de procedimentos investigatórios desde 2015. A estatal ressaltou que eles não foram necessariamente investigados, mas podem ter sido, por exemplo, ouvidos como testemunhas. Agora, estão recebendo cartas com o “feedback” das investigações de que participaram. “Aproveito a oportunidade para pedir desculpa pessoalmente a todos aqueles que foram injustiçados e seus familiares”, disse o presidente.