Título: Combustível para briga entre Rio e SP
Autor: Luciana Collet e Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 04/10/2005, Economia & Negócios, p. A19

Os royalties anuais que podem ser superiores a R$ 400 milhões provenientes da exploração do Campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, bem como os potenciais 40 mil empregos a serem gerados pela nova indústria para processar o gás natural extraído de lá, além do aumento da arrecadação de demais impostos municipais e estaduais, estão acirrando a disputa entre Rio e São Paulo. Enquanto as cidades do litoral norte paulista dão como certa a escolha de uma delas para a instalação da base de processamento de gás - projeto guardado a sete chaves pela Petrobras - as cidades litorâneas fluminenses tentam a todo custo convencer a estatal das vantagens em estabelecer a nova unidade no estado do Rio.

Ainda disposto a brigar pela sede da unidade de negócios, o Rio de Janeiro identifica em municípios como Angra dos Reis e Niterói as condições necessárias para sediar o projeto. Para o secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, o fato de a Bacia de Santos estar localizada em frente a municípios fluminenses como Maricá, Saquarema, Arraial do Cabo, Angra dos Reis, Mangaratiba e Rio de Janeiro deveria garantir ao estado tal condição.

De acordo com ele, também pesariam a favor do Rio a condição de sede da Petrobras. Victer lembrou, ainda, que estão localizadas no estado os principais cursos de graduação e pós-graduação voltados para o segmento de petróleo. O secretário revelou que, se os critérios forem técnicos, tributários e ambientais, a decisão deverá ser em favor do Rio, e acena com incentivos fiscais para viabilizar o empreendimento.

O secretário de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento do Estado de São Paulo, Mauro Arce, afirmou que ''lutará o bom combate até o fim'' para trazer a unidade de negócios para o estado. Segundo ele, o governo paulista tem conversado com a Petrobras com argumentos técnicos e econômicos, apresentando as vantagens de uma eventual instalação em São Paulo.

- Além de ser o maior mercado consumidor de gás, esta instalação também deve possibilitar o abastecimento com gás nacional dos estados do Sul e do Mato Grosso do Sul, que hoje apenas consomem gás boliviano - resumiu.

Embora reconheça que a condição de estado sede da Petrobras favoreça o Rio de Janeiro, Arce acredita que a condição estratégica, técnica e econômica paulista deverá privilegiar São Paulo. Ao contrário de Victer, ele negou a possibilidade de conceder incentivo fiscal.

Ao que parece, os argumentos têm dado resultado. O anúncio oficial do local da futura base de processamento deve ser feita apenas em 2006. As obras devem ser iniciadas em 2007 e o início das operações está previsto para 2008. Segundo estimativas, as obras, que devem consumir um total de US$ 3 bilhões, criariam cerca de 10 mil empregos.