Valor Econômico, v. 20, n. 4900, 13/12/2019. Brasil, p. A6
 

Saída de Weintraub do MEC deve ser em ‘fogo lento’; ministro nega
 Hugo Passarelli

 

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, prepara uma tentativa de saída discreta do cargo após o recesso de fim de ano, de acordo com fonte próxima do assunto. Um dos planos é emendar férias com folgas nas próximas semanas. Pesa contra uma saída imediata a falta de nome para substituí-lo, o que fará com que a troca de cadeira no  Ministério da Educação (MEC) se dê em “fogo lento”, descreve a fonte.

Especulada nas últimas semanas, a substituição do ministro ganha força com a saída de Priscila Costa e Silva, uma de suas principais assessoras. A exoneração de Priscila, feita a pedido, foi publicada ontem no “Diário Oficial” da União” (DOU).

Além de chefiar a comunicação da pasta, a jornalista era descrita por fontes como a primeira pessoa na linha de frente do gabinete do ministro. Procurada, Priscila disse apenas que deixa o MEC para “novos caminhos”.

Anteontem, em audiência na Câmara dos Deputados, Weintraub foi acompanhado de Priscila e dois advogados, sem qualquer técnico ou secretário, o que também foi visto como um reforço do clima de “saideira geral”.

O antecessor de Weintraub, Ricardo Vélez Rodríguez, foi exonerado quatro dias após a saída de seu chefe de comunicação, o também jornalista Bruno Garschagen, tido como representante da ala olavista do MEC.

Desde que assumiu o cargo, em abril, Weintraub tem cumprido uma intensa agenda de entrevistas coletivas, que se acelerou desde meados de novembro. Para uma fonte, é uma tentativa de firmar sua marca à frente da pasta e se manter no governo.

Durante a campanha presidencial de Jair Bolsonaro, Weintraub e seu irmão Arthur eram assessores sobre os temas relacionados à reforma da Previdência Social. Antes de virar ministro da Educação, Weintraub era secretário-executivo da Casa Civil. Procurado pelo Valor para comentar sua eventual saída do MEC, o ministro se limitou a responder, por WhatsApp, que se tratava de “fake novamente”.

Também há um clima de desânimo entre os secretários da pasta. Janio Macedo, responsável por cuidar da educação básica, tem demonstrado a interlocutores cansaço com a postura de Weintraub. Bem relacionado com os secretários municipais e estaduais, Macedo enfrenta dificuldades em tocar sua agenda.

Desde que chegou ao MEC, Weintraub tem promovido uma queda de braço com as universidades federais. Anteontem, foi à Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos sobre a afirmação de que os campi dessas instituições seriam locais de plantio e produção de drogas. O ministro exibiu vídeos e reportagens que comprovariam a prática.

Crítico da gestão orçamentária das federais, Weintraub defende intensificar a entrada de capital privado nas universidades públicas com o programa conhecido como Future-se. O plano está à deriva após uma série de questionamentos jurídicos e não se sabe se, ou quando, ele se tornará um projeto de lei.

Das bandeiras de campanha de Bolsonaro, Weintraub anunciou a implementação das escolas cívico-militares, com adesão de 54 unidades de ensino em 2020. Especialistas veem com ceticismo a eficácia da medida para reverter o quadro educacional no país porque o número de escolas atendidas é baixo e não há evidências que comprovem a suposta qualidade superior de ensino sob este modelo.

O programa de alfabetização, que defende o método fônico e é chefiado por Carlos Nadalim, o único secretário restante da gestão de Vélez Rodríguez, também sofreu duas baixas desde novembro. Um dos coordenadores do projeto, o psicólogo e pesquisador Renan Sargiani, foi demitido após críticas sobre a paralisia no MEC. Josiane Toledo Silva, outra coordenadora do programa de alfabetização, também deixou a pasta na mesma ocasião.

Antes da troca de cadeiras, a previsão do MEC era publicar, no início de 2020, um relatório resultante do debate com especialistas durante a Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Conabe), realizada em outubro, em Brasília.