Título: Quando ligar é acessório
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2005, Economia & Negócios, p. A17
Comprar um celular apenas para fazer ligações é coisa do passado. A função básica dos aparelhos móveis vai perdendo espaço em tempos de envio de mensagens, download de músicas, navegação na internet e até pagamento de contas. Pouco preocupados com a cobertura das operadoras, os jovens dão mais atenção aos serviços oferecidos pelas empresas, que de meros acessórios tornam-se cada vez mais essenciais na hora da escolha de um modelo. As conclusões fazem parte de pesquisa feita pelo IAG, a escola de negócios da PUC-RJ. Segundo o levantamento, com 222 entrevistas realizadas, na maioria com jovens do Rio de Janeiro, 82% usam o celular para enviar torpedos, 62% anexam imagens nas mensagens e 57% utilizam o aparelho para acessar a internet. Do outro lado, apenas 48% usam o telefone só para efetuar e receber chamadas.
É o caso das estudantes Jessica Dias Roseira Jorge, de 13 anos, e Carolina Cortez Barbosa, de 14. Enquanto passeavam no Shopping Tijuca, as meninas, ambas com celulares nas mãos, não perdiam tempo em enviar mensagens para as colegas.
¿ Às vezes, enviar mensagens é mais prático e divertido. Ligar é um processo mais demorado. Hoje em dia, também não é difícil baixar as músicas mais tocadas nas rádios pelo celular ¿ diz Jessica.
Assim, os toques musicais ganham espaço. Com a chegada do celular walkman, da SonyEricson, e do Itunes, da Motorola, os serviços de música devem ficar mais baratos. Na Claro, por exemplo, as receitas cresceram 180% nos primeiros meses deste ano em relação ao ano passado.
¿ Há uma tendência de aumento na utilização dos serviços. O celular tem a mesma importância da chave de casa e dos documentos, segundo pesquisa que fizemos. A diversão está tomando uma dimensão muito grande ¿ explica Marco Quatorze, diretor de serviços e de valor agregado da Claro.
Segundo o autor da pesquisa, o engenheiro de produção Carlos Gadelha, o objetivo da amostragem é avaliar os serviços móveis e identificar o que faz a diferença na hora de comprar um celular. O levantamento apontou ainda o interesse por aplicações que ainda não estão disponíveis no Brasil, como a compra de ingressos de cinema ou o uso do telefone como controle remoto universal.
Por outro lado, de acordo com os dados do levantamento, serviços de vídeo e de fotografia nos aparelhos ainda não despertam tanto o interesse do público. Apesar de receberem fortes investimentos das operadoras, as limitações técnicas (como resolução de imagem e qualidade do som) e os altos preços dos aparelhos aparecem como entraves para uma maior popularidade.
¿ Baixar vídeo é usado apenas por 27% das pessoas e assistir à televisão foi citado por 39% dos entrevistados. São os únicos que aparecem abaixo dos que usam os celulares apenas para ligar. Mas a tendência é que esse cenário mude, já que, com o tempo, os modelos com maior definição ficarão mais baratos, com o ganho de escala ¿ afirma Gadelha, lembrando o fato de que ouvir rádio no celular já é rotina para metade das pessoas entrevistadas pela pesquisa.
Para Gadelha, os jovens são os mais receptivos aos novos serviços e os menos preocupados com a segurança no sigilo de dados. Prova disso, é o alto índice de aprovação de aplicativos ainda inéditos no país, como o pagamento de contas, citado por 59% dos entrevistados como fator que determinaria a compra de um aparelho. Usar um celular que funcione como controle remoto ¿ como existe na Europa ¿ tem preferência quase que unânime: chega a 73% a aceitação entre os ouvidos pela enquete. A metade desse contigente usaria a tecnologia para ligar eletroeletrônicos e 66% teriam, com o celular na mão, o controle da porta de casa e da garagem.