Título: Brasileiros sem medo da competição
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2005, Economia & Negócios, p. A24

O atual patamar do dólar, abaixo dos R$ 2,30, não assusta mais os produtores brasileiros de vinhos finos. Embora reconheçam que a concorrência com os estrangeiros é dura, os vitivinicultores nacionais reclamam mais da carga tributária, que chega a 42%, enquanto na Argentina e Chile está em torno de 20%.

Alexandre Miolo, diretor comercial do vinícola Miolo, diz que os investimentos de R$ 35 milhões feitos pela empresa nos últimos cinco anos trazem a expectativa de um aumento de pelo menos 10% nas vendas este ano, para 4,5 milhões de litros. Segundo ele, o consumidor já percebe a melhora de qualidade dos vinhos nacionais, embora ainda exista preconceito contra a bebida produzida aqui.

- Há problemas temporários, como o dólar, mas sabemos que na qualidade não há porque temer a concorrência estrangeira. Eles vêm para cá e nós vamos para lá - aposta, lembrando a parceria da Miolo com a chilena ViaWines, além da troca de tecnologia, que permitirá a partir deste mês a negociação de vinhos brasileiros da marca Oveja Negra no mercado chileno.

Para Carlos Raimundo Paviani, presidente executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), o acordo que proibiu a importação de vinhos argentinos com preço abaixo de US$ 8 por caixa de 12 garrafas já ajudou a evitar perdas para o produtor nacional, que não tem escala para competir em quantidade com os vizinhos.

Paviani revela que o salto de qualidade foi decorrência direta dos investimentos de R$ 213 milhões em tecnologia e estocagem feitos pelas vinícolas desde 2002, além dos R$ 150 milhões gastos para a compra de 5 mil hectares de terras desde 2000 no Rio Grande do Sul, que concentra mais de 90% da produção nacional.

Para aumentar as vendas nacionais no mercado - que subiram 18,7% até agosto, de 11 milhões de litros em 2004 para 13 milhões de litros este ano -, o Ibravin traçou um plano estratégico. Dia 10, em São Paulo, acontece o 3º Circuito de Degustação de Vinhos e Espumantes do Brasil, no Hotel Grand Hyatt. O circuito continua ainda em Belo Horizonte, Brasília, Recife e Salvador. As iniciativas embutem a meta de elevar o consumo per capita brasileiro dos atuais 1,8 litro por ano para 9 litros em 2025.

- A presença dos importados sempre será grande, mas nós crescemos em quantidade e qualidade - comemora Paviani.

Um bom empurrão para melhorar as vendas foi dado pelo clima. A seca que arrasou culturas de soja e milho contribuiu para produzir um vinho com mais álcool, o que acentua as características de aroma, cor, sabor e conservação, na que foi considerada a melhor safra da história no país.

- A safra é boa desde 2002 e atingiu o auge este ano. No ano que vem os consumidores terão ótimos vinhos nas prateleiras - diz Paviani.