Título: O doce aroma do dólar fraco
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 09/10/2005, Economia & Negócios, p. A24
Os apreciadores de bons vinhos têm fortes motivos para saborear a queda do dólar, que tanta dor-de-cabeça tem dado aos exportadores. Favorecido pelo câmbio, o mercado brasileiro de vinhos finos vai experimentar um importante crescimento este ano. Os preços em algumas lojas do Rio estão até 30% menores que há um ano.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), o mercado nacional de vinhos finos - que representa 15% do total - foi de 59 milhões de litros em 2004, dos quais apenas 20 milhões de litros de produtores locais.
Os números até agosto, no entanto, já dão uma idéia do crescimento esperado. As vendas totais no país foram de 33 milhões de litros, 7% acima do acumulado em agosto de 2004. Deste total, 13 milhões de litros foram de vinhos nacionais. Para o ano fechado, a expectativa é de crescimento de 15% do mercado.
A liderança continua com os já famosos chilenos e argentinos. No ano passado, só a Argentina vendeu 10 milhões de litros no país, enquanto o Chile exportou 11,6 milhões de litros.
Mas se os líderes já estão definidos, os consumidores terão acesso facilitado a produtos espanhóis, portugueses e italianos, entre outros.
Danilo Cavagni, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), explica que a queda do dólar praticamente eliminou a diferença do imposto de importação, de 27% para vinhos de fora do Mercosul.
- A Itália vai entrar muito este ano, assim como os portugueses - garante Cavagni.
Para Guillhermo Enrique, sócio do La Botella, loja especializada em vinhos na Zona Sul do Rio, os principais beneficiados com a queda do dólar serão os países que negociam o produto diretamente em dólar, como Estados Unidos, África do Sul e nações da América do Sul.
- A queda de preços destes vinhos está na casa de 30% e para o Natal esperamos uma redução ainda maior. Vamos vender um volume cerca de 20% maior este ano, embora o faturamento não vá subir tanto por conta dos preços baixos - ressalta.
Enrique explica que os vinhos mais procurados no momento são os chilenos, argentinos, espanhóis e italianos.
- O euro subiu por algum tempo, o que deixou os europeus um pouco mais caros. Mas agora esta tendência mudou e já percebemos uma queda geral de preços - revela.
Alguns exemplos da redução no La Botella são os chilenos Los Boldos, que recuou de R$ 36 no começo do ano para R$ 28,90, e Torres Cordilheira, que passou de R$ 92 para R$ 74. O preço do espanhol Torres Corona caiu de R$ 58 para R$ 46.
Para os chilenos e argentinos, o câmbio ajuda, mas não é o único incentivo. Enquanto o Mercosul garante a entrada direta das bebidas da Argentina, o Chile se beneficia de um teto de 280 mil caixas que entram com alíquota de 18,1%, enquanto as caixas acima de US$ 50 têm imposto zero.
Uma das vinícolas que quer somar a vantagem de estar no Mercosul com as benesses do dólar baixo é a Bodega Boutique Carinae, da região argentina de Mendoza. Com uma produção pequena, de 260 mil litros por ano, a vinícola começou a produzir este ano, depois que o francês Phillipe Subra, ex-executivo da EDF na Argentina comprou o terreno, que tinha vinhedos da década de 1920. Seguindo as regras de qualidade do também francês Michel Rolland, personagem do documentário Mondovino, a Carinae tem a meta de vender 3 mil garrafas de 750 ml no Rio e em São Paulo este ano.
Para 2006, o objetivo é encaixar no Brasil 20% do total produzido pela vinícola, que também exporta para Estados Unidos e Alemanha. Os produtos da Carinae começarão a ser negociados no Brasil em novembro. As principais marcas trazidas para o país são a Carinae Reserva, El Galgo e Carinae. As duas primeiras terão preço de R$ 65 a garrafa, enquanto a Carinae sairá por R$ 50.
- O câmbio tem influência grande, pois garante que o vinho de qualidade não terá um preço proibitivo - diz Marcelo Dionísio, sócio da Volans Comercial e Importadora, representante da Carinae no Brasil.