Valor Econômico, n. 4921, 17/01/2020. Política, p. A5

Pesquisas eleitorais vão medir força do presidente
Luísa Martins
Fabio Murakawa
Isadora Peron
Marcelo Ribeiro
Raphael Di Cunto


As pesquisas de intenção de voto para as eleições municipais de 2020 estão nas ruas. Desde o início do ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recebeu 18 registros - em média, um por dia. A maioria, ainda que ocorra em municípios do interior, pede aos entrevistados uma avaliação do governo Jair Bolsonaro. Em São Paulo e em Santos, o questionário ainda busca entender a influência do presidente no voto para as prefeituras.

Sem partido, Bolsonaro disse anteontem que “não vai se meter em política municipal” caso o Aliança Pelo Brasil não seja oficializado a tempo de lançar candidatos às eleições. Ainda assim, os institutos de pesquisas de opinião querem medir a sua força, assim como a de outros atores da política, como cabo eleitoral.

O registro de pesquisas na Justiça Eleitoral é obrigatório por lei desde o dia 1º. Até agora, foram tabulados estudos de cinco municípios do Maranhão, cinco de São Paulo, três do Piauí, dois do Pará, um da Bahia, um de Pernambuco e um de Santa Catarina. Entre as capitais, apenas São Paulo (SP) e Belém (PA).

Em geral, as perguntas envolvem possíveis candidatos à prefeitura, intenções de voto para vereador e a atuação de deputados e governadores em exercício. Mas também se observa uma “nacionalização” dos questionários, quando o entrevistado é provocado a dar suas impressões sobre o presidente da República.

Em municípios do Nordeste, por exemplo, o cidadão deve responder objetivamente se a administração de Bolsonaro é ótima, boa, regular ou ruim. Já em Santos (SP) e Codó (MA), ele deverá dizer apenas se aprova ou desaprova o governo. Já em Aramina (SP), a pergunta é mais subjetiva: o entrevistado deve dar uma nota, a que quiser, ao presidente.

Na capital paulista, a pesquisa se aprofunda ao medir as chances de voto em um candidato apoiado pelo presidente, em comparação aos apadrinhados pelo governador João Doria (PSDB) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O estudo, já finalizado e divulgado pela Brada Comunicação, concluiu que o petista é o melhor cabo eleitoral, com 39,6%, deixando Bolsonaro em segundo lugar (24,3%) e Doria em terceiro (14,3%). O restante não soube opinar ou declarou indiferença.

Já em um cenário estimulado, em que uma lista de 13 nomes é apresentada, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) e a ex-senadora e ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido) estão tecnicamente empatados, com 16% e 13%, respectivamente. O atual prefeito, Bruno Covas (PSDB, 11,2%) e o ex-governador Márcio França (PSB, 8,1%) vêm em seguida, também com empate técnico. O quinto mais bem avaliado é o jornalista José Luiz Datena (sem partido, 7,6%).

Também em Santos (SP) é medida a força de Bolsonaro ao interferir nos votos dos eleitores, bem como o potencial de influência de Doria e do prefeito do município, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Registrada ontem no TSE, essa pesquisa só deve iniciar amanhã. Nos municípios maranhenses, o grau de prestígio dos eleitores aos indicados pelo governador Flávio Dino (PCdoB) é uma pergunta recorrente.

CNJ nega ação contra ajuda de cartórios ao Aliança

O corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, negou ontem o pedido de partidos da oposição para suspender suposto apoio de cartórios de notas à filiação de membros do Aliança pelo Brasil, novo partido do presidente Jair Bolsonaro.

Até a noite de ontem, o partido contabilizava 192 mil firmas reconhecidas. Para se viabilizar para as eleições municipais deste ano, o Aliança precisa recolher cerca de 492 mil assinaturas de apoiamento. Além disso, todos os trâmites no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que concede o registro partidário, terão que estar concluídos até 31 de março.

Para dar celeridade ao processo de registro da legenda no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), advogados de Bolsonaro fecharam acordo com cartórios de notas. A parceria com o Colégio Notarial do Brasil (CNB) garantiria que notários trabalhassem pela criação da sigla.

PT, PSB, PDT, Psol e PCdoB pediram para que o CNJ apurasse se houve a prática de improbidade administrativa. Os partidos argumentaram que “os cartórios de notas são concessões públicas e não podem exercer atividades de natureza político-partidária”.

De acordo com as legendas, o CNB teria orientado os cartórios a oferecerem aos eleitores fichas de filiação do novo partido de Bolsonaro. Também teriam sido orientados “a receber e armazenar as fichas assinadas, com firmas reconhecidas, para serem entregues a um representante credenciado do partido de Bolsonaro”.

Para o ministro, porém, “os elementos existentes nos autos não demonstram de forma segura estar ocorrendo ilegalidade na atuação dos notários”.

“De fato, não há elementos suficientes para concluir estar havendo atuação concertada dos delegatários de apoiar institucionalmente uma agremiação partidária, em detrimento das demais”, escreveu.

Em nota, o Aliança criticou a ação dos opositores e também negou haver ilegalidades.

“A Aliança pelo Brasil esclarece que não há qualquer [sic] ilegalidade na atividade de reconhecimento de firma nas fichas de apoiamento realizada pelos cartórios de notas”, disse o partido em nota encaminhada pela advogada da sigla, Karina Kufa. “Os partidos que entraram com a representação no CNJ pretendem apenas causar instabilidade por não admitirem que cidadãos brasileiros podem constituir um partido organicamente.”

Neste fim de semana, o partido realiza mobilizações para conseguir assinaturas em Goiânia e Brasília. Bolsonaro, porém, não irá.

O presidente deve, no entanto, ser a estrela de um evento do partido marcado para 9 de fevereiro no Rio. A avaliação da cúpula do novo partido é que a presença do presidente pode promover um “boom” na base de apoio à criação da sigla.

“Tudo indica que ele vá, só depende da agenda dele. Foi ele quem pediu essa data”, afirmou o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), um dos responsáveis por articular os atos do Aliança no Rio. ”É preciso acelerar o processo de recolhimento de assinaturas para ter o partido até abril”, acrescentou.

Também como estratégia para atrair mais apoiadores, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), um dos filhos do presidente, deve participar do “mutirão”, que acontecerá na orla de Copacabana.

No mesmo dia, a expectativa é que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) lidere um evento em São Paulo, na Avenida Paulista, com o mesmo objetivo.